Acerca do meu post anterior houve comentários muito interessantes e muito ficou ainda por dizer.
O Santos Passos resolveu, em vez de comentar, escrever também um post sobre o assunto lá no blog dele. Uma escrita tão interessante que a roubei para aqui, incluindo o título...Espero que ele não se zangue!
«Nesta recente viagem de mês e meio a Portugal (dezembro/janeiro), chamou nossa atenção - de minha mulher e minha - o comportamento de pais ao lidar com filhos em público. Nos restaurantes, nos hotéis, víamos crianças de várias idades "deitando e rolando" em cima de pais aparvalhados, cuja única reação diante das estrepolias dos miúdos era um sorriso amarelo.
Ora, penso que uma das características principais de um processo de educação é o gradativo estabelecimento de limites para que as crianças possam aprender a determinar o espaço que lhes cabe no mundo.
Se esse aprendizado inclui, vez em quando, umas palmadas, isso depende das circunstâncias, do momento. Confesso que, nas poucas vezes em que dei algumas palmadas em meus filhos ao longo da formação deles, ficou-me uma sensação de incompetência por ter necessitado chegar a esse ponto. Nem por isso me arrependo de tê-las dado (foram tão poucas que eles alegam não lembrar-se de quase nenhuma). Se eu era incompetente para - em dado instante - determinar limites à ação deles por meios verbais, paciência. O que não se pode é deixar de estabelecer os limites, deixá-los claros para a criança.
Talvez se possa resumir tudo: "menos mal uma palmada que nada".
A propósito, deixa contar a história que ouvi do Armindo Alves, em Vinhais. Para quem leu outros posts deste blog sobre nossa viagem a Portugal, não é preciso dizer que o Armindo é o dono da casa em que ficámos hospedados na aldeia de Pinheiro Novo.
Ao lado da casa em que estávamos havia um galpão onde ficavam à noite muitos cabritos pertencentes a um casal vizinho. Pela manhã saíam a pastar, voltavam ao cair da tarde.
Pois bem. Antes de nós, esteve hospedado na casa do Armindo um casal do Porto. O casal tinha um filho de uns cinco anos. Desde o primeiro dia o miúdo afeiçoou-se aos cabritos. Brincava com eles sempre que possível. No dia de voltarem ao Porto, o menino sumiu.
Perplexidade, procura que procura, até que - depois de mobilizada toda a aldeia para encontrar o puto (aqui serve o português de Portugal e o do Brasil) - eis que ele foi descoberto lá no fundo do galpão dos cabritos, escondidinho.
Até aí, nada demais, fora o susto dos pais. A questão crucial vem agora. O casal, para conseguir convencer o garoto a voltar ao Porto, teve de comprar um cabrito e levá-lo até o Porto junto com o garoto, no automóvel, obviamente com as patas amarradas. Se os donos dos cabritos não quisessem vender um para acompanhar o guri até o Porto, será que o casal mudava para Pinheiro Novo?
Assim como é importante enfatizar a questão do aprendizado dos limites no processo educacional, não se pode esquecer que esse mesmo processo tem seus limites. Há fatores genéticos, ambientais, culturais, que determinam o maior ou menor alcance da educação de alguém. Mas aí, já entramos em conversa mais comprida.»
E agora eu:
Essa conversa comprida interessa-me bastante e vou continuá-la um dia destes.
Quanto ao que descreveste há duas coisas que me fazem bastante impressão:
1. O que terá acontecido ao pobre cabritinho que, com certeza, não se adaptou à vida no Porto.
2. O que vai acontecer no futuro a esse "guri" que, com cinco anos já manda nos pais.
Era fácil aos pais explicar-lhe calmamente que o cabritinho não podia sobreviver se o tirassem do local onde vivia com os outros, pois necessitava de todo aquele espaço, blá, blá, blá, e todos os argumentos que lhes ocorressem.
O miúdo era capaz de vir a choramingar todo o caminho (coisa chata, não?), mas aprendia que há limites e que não se pode ter tudo.
Se com essa idade não for ensinado a lidar com uma pequena frustração quando é que vai aprender?
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10 comentários:
Chateado certamente não. Fiquei é feliz por me trazeres à tua casa. Quanto ao cabrito, certamente foi vendido a algum talho, como sugeriu o Armindo, de Vinhais.
Quanto ao miúdo, vai aprender seus limites ao bater em paredes que a vida colocará em seu caminho. Como diz minha irmã mais velha, citando meu pai: a vida ensina, mas a vida machuca.
Beijinhos.
Concordo. O cabrito nunca deveria ter ido com o menino, os pais não podem ceder no que ultrapassa os limites do aceitável. O menino aprenderia cedo que todos temos o nosso espaço e que tirarmos esse espaço a algo ou alguém é invadi-lo, invadindo também a sua liberdade. Beijo grande. Carla.
Eu quero, posso e mando...diz o puto baixinho;) Vai ser giro se casualmente em passeio com os papás passar por uma sex shop e disser: "Ó Pai quero uma boneca daquelas" ehehehehehe ;)
aflores/ailaife blog
Pois é,aqui está um belo exemplo de pais a criarem pequenos monstrinhos.E como diz o Santos Passos(acho eu)"a vida machuca" mas quantas pessoas vai ele magoar nesse processo todo até aprender?
pekala
Pois Saltapocinhas,eu no deleites e pensamentos também fiz um post que se intitulava "Que terramoto" que falava nas periécias de uma aula com alguns "monstrinhos destes" e dizendo que quem tinha culpa de eles ser assim eram os pais.Só faltou sei lá o quê, chamando-me todos os nomes que existiam e para eu me demitir se dizia que os pais é que eram os culpados de os filhos serem assim.É muito complicado e geralmente as pessoas quando comentam estes casos estão a ver o professor como não querendo assumir as suas responsabilidades.Mas quem é o responsável de o jovem ser mal-educado?Arte por um Canudo
Olha, desculpa lá qualquer coisinha mas calhaste-nos na rifa! ;)
até eu fico admirado com o puto.
1º se tivesse ido a lisboa ao jardim zoológico, talvez quisesse um elefante;
2º depois de ter o rebanho todo por conta, contentou-se só com um;
3º será uma questão de tar in ou out?
4º problemas de recalcamento pessoal motivaram os pais cederem?
5º ter-se-á de contratar um psicanalista quando se tem os putos ainda no berço para podermos controlar as suas birras para q mais tarde sejam um grande exemplo para a sociedade?
6º já nem me lembro da última birra q fiz, decerto não levei vantagem mas tentei... bolas!!
Tens razão: o post está brilhante.
Talvez não tenha nada a ver, ou até sim...
Ontem "discutia-se" no lugar onde vou almoçar, se os pais devem ou não ajudar nos TPC...
Na teoria, eu acho que não. A independência cria-se cedo e a autonomia, conquista-se... sabe-se lá onde... Meninos, com os pais a "apoiar" nos TPC... sempre, todos os dias e a todas as matérias... :-( ??
Na prática??? Vou esperar para ver, quando chegar a minha vez...
Palmadas? Pois eu sou das que dá... mas acho até que exagero... e tenho feito um esforço, para as tornar em extinção... parece-me que com algum resultado...
A dose certa é lixada de atingir... Mas, lá em casa quem manda sou eu! Tipo Ditocracia?? Talvez, mas entre ele e eu... Por enquanto, eu sinto-me mais capaz...
Devo dizer, que gosto destes temas, que tens lançado por aqui. Bom fim de semana.
Partilhas
Fala a mãe novamente. E agora para dizer o que todos sabem: educar não é fácil. O caso do menino e seu cabrito revela tanta falta de bom senso que não penso que seja comum. Mas põe-nos a pensar. Existem imensas situações em que temos dúvidas sobre como actuar, outras em que nem nos damos conta dos nossos erros, e outras em que sentimos que fraquejamos. Para cada criança é necessário aplicar "uma psicologia" (diz uma mãe de gémeos), o que funciona com um não funciona com outro, etc., não há fórmulas exactas. Só mais uma coisa: a questão não se reduz a impôr limites, mas a impô-los de forma eficaz (com compreensão). Para que os nossos filhos, quando "soltos" (por exemplo, na escola, e sob o efeito de um grupo), possam decidir sozinhos o "bom caminho". Parabéns pelo tema, saltapocinhas.
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