3 de janeiro de 2005

Escolha impossível

Hoje, primeiro dia de escola depois das férias, era inevitável falar com as crianças acerca da tragédia na Ásia, mostrar-lhes no mapa onde ficam esses países, ouvir as opiniões deles...

A Rita tem 7 anos.
A certa altura da conversa ela diz: "Tu viste aquela mulher que largou um filho para salvar o outro?
Eu acho que ela devia ter agarrado os dois filhos e assim ou morriam os três ou salvavam-se os três."

Assim, sem tirar nem pôr!

E eu fiquei palerma a olhar para ela, pois a imagem que mais me marcou de toda esta tragédia foi precisamente a do tal filho "não escolhido" a soluçar convulsivamente agarrado a um peluche.
E eu nunca tinha tido a coragem, em todos estes dias, de comentar com alguém, nem sequer cá em casa, que eu sempre pensei como a Rita: uma mãe não pode escolher um filho!

15 comentários:

Anónimo disse...

Este artigo levou-me a chorar. Em horas de aflição nunca se sabe qual será a nossa reacção imediata. Tudo isto é alarmante. Que Deus proteja os sobreviventes desta tragédia.

Anónimo disse...

Acho que a comunicação social foi muito cruel ao aplicar o termo 'escolha'. Uma mãe não faz uma escolha dessas. Ela sabia que agarrada aos dois, morreriam os três, por isso disse ao mais velho para se agarrar, coisa que o mais novo não conseguia. Esse menino, que felizmente se salvou, vai levar toda a vida com essa história de que a mãe o preteriu... é muito cruel :( Como se explicam estas coisas a uma criança? Dói muito... Beijo grande. Carla.

Anónimo disse...

Um bom ano para ti tb!! jokas
sorriso cativante

Unknown disse...

Arrepiei-me com a frase da Rita.
Também eu pensei assim. Não há como as crianças para dizer o que os adultos não conseguem.

Didas disse...

Também me parece que ela não escolheu.
Também me parece que ela deve ter vivido um momento muito difícil, até por isso.
Também me parece que há que ter mais cuidado nesse tipo de julgamentos apressados, até pela criança.

Pessoa sem pensa disse...

A tristeza de "A Escolha de Sofia".....
Triste demais da conta.
Ia contar que o EQ fez 5000 em 2005 com alegria, mas que diferença faz, não é ?
abração,
guilherme

Anónimo disse...

Também fiquei particularmente impressionada com a história. Até sonhei com o "menino rejeitado" e as lágrimas que o lavavam... A notícia chamou-me a atenção sobretudo porque também sou mãe, e tenho a certeza de que a mãe em causa não "escolheu", porque nem sequer tinha tempo nem cabeça para o fazer; acho que, numa situação de desespero como aquela, sentir que o bebé está a ser arrastado talvez obrigue ao gesto desesperado de o puxar com mais força... talvez essa força leve a prestar menos atenção ao maiorzinho por uma fracção de segundo... catastrófica! Suponho que se pode falar de um gesto de protecção instintivo face ao mais desprotegido, não acredito numa escolha. Por isso também achei lamentável que os meios de comunicação apresentassem o acto dessa forma (confirmada pela mãe fragilizada e atónita!) como se se tratasse de uma opção consciente e deliberada... E, por isso, considero inaceitável o uso da palavra "escolha", sobretudo pelo que isso trará de horrivelmente negativo ao menino que irá enfrentar esse sentimento, sabe-se lá até quando! É imperdoável que os meios de comunicação, embora bem intencionados, divulguem uma notícia dessa gravidade sob essa perspectiva! E o mais grave é que podem ser incalculáveis os danos que essa interpretação vai trazer não só ao menino mas a toda essa família, a essa mãe, a todas as mães, a todas as crianças... Deus nos proteja!
Explica à tua Ritinha a diferença entre gestos conscientes e premeditados e aqueles que surgem (ou se impõem!)numa situação tão horrível que, mesmo que quiséssemos, nunca conseguiríamos imaginar...
Um beijo (ainda angustiado!): Gracita

Anónimo disse...

A cabeça de uma criança funciona assim mesmo.. O seu conceito de Justiça e´... JUSTO! ** M.P.

mfc disse...

A vida ensina-nos que o espírito de sobrevivência nos obriga às escolhas mais impensáveis.
Acredita, pode escolher-se, sim!

Anónimo disse...

Não consigo comentar. É demasiada crueldade. Basta de tanta miséria, tanto terror e sensacionalismo exibicionista dos meios de comunicação. O meu silêncio é a minha dor e respeito por todos os que sofrem neste momento. aflores/ailaife blog

Maria Papoila disse...

Não podemos criticar aquela mãe que teve poucos segundo para pensar. Mas é fácil dizer, e eu também o digo, que não largava nenhum, morríamos os três. Uma coisa eu quase posso afirmar, aquela criança vai ficar marcada para toda a vida por saber que a mãe escolheu antes o irmão e não há nada pior do que nos sentirmos abandonados pelas pessoas em quem mais confiamos. bjs

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Voltaram a entrevistar a mãe. Não estão em causa os actos que não podemos julgar. Mas era ela própria que voltava a descrever aqueles momentos dramáticos À FRENTE DO FILHO, E QUE INSISTIA NA ESCOLHA QUE TINHA SIDO OBRIGADA A FAZER E COMO TINHA SOFRIDO QUANDO VIU QUE UM SEGUNDO ADULTO A TERIA LARGADO, etc.. Aquele menino ali a ouvir tudo! Os media a insistirem! Pobre menino!

Chris Kimsey disse...

Excelente post. Tanto que lhe dei destaque no meu blog. Parabéns, saltapocinhas. ;-D

Estrela do mar disse...

...ainda bem que não vi essa imagem...aliás nem tenho acompanhado muito bem...prefiro só ver alguns excertos...mas ...fiquei super arrepiada com o que aqui descreveste...nenhum filho tem prioridade sobre outro...como é possível uma mãe ter uma opção dessas???!!!

Desejo-te um bom fim de semana amiguinha.
Um beijinho* grande.

Luís Almeida Fernandes disse...

Ainda não tenho a morte suficientemente pensada para poder comentar sobre ela. Curioso como essa menina aparente já ter passado essa fase!
Estou impressionado com a Rita...

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