Às vezes ouço pessoas dizerem que as crianças não sabem bem o que querem, ou que não entendem a autoridade, ou que não gostam que sobre elas se exerça autoridade, etc...
Eu sempre achei que as crianças sabem bem o que querem, que não são "cruéis" mas sim honestas nos seus julgamentos, que respeitam quem sobre eles exerce autoridade (com justiça, é claro).
Nunca até agora tinha tido uma resposta tão objectiva a estas questões, como tive este mês:
A professora que lhes vem dar as aulas de Música nos prolongamentos nunca conseguiu dominar a turma, nem pouco mais ou menos.
Os alunos fazem dela gato sapato, cá de fora ouve-se uma enorme barulheira na "sala de aula": vozes, berros, corridas (!!!), barulho de objectos a cair...
Ouve-se de tudo... menos música!
Ao princípio intervinha na aula só para os mandar calar.
Depois deixei de o fazer porque me parecia que a professora não gostava e, verdade seja dita, eu detestaria que mo fizessem.
Vai daí, deixei de o fazer.
Nos dias seguintes às aulas, tenho de ouvir o rosário de queixas dos alunos: o não sei quantos bateu no não sei quê, o outro destruiu a borracha da outra, a uma porque doía a cabeça com tanto barulho...
Além disso há material que desaparece porque foi atirado de uns para os outros, a caixa do papel de rascunho quase vazia porque as folhas que lá estavam foram transformadas em bolas e arremessadas...
... enfim!
Um dia destes o J. não tinha acabado um trabalho e eu pedi à professora se o deixava ficar na cantina comigo para o acabar.
Na aula seguinte houve uns poucos que pediram se podiam ficar "de castigo".
Primeiro foram os alunos sossegados que se queixavam que não valia a pena estar na aula, uma vez que dela nada aproveitavam.
Mas, logo depois, até os mal comportados começaram a desistir.
"e porquê?"
"porque não se pode estar na aula com tanto barulho!"
"mas não são vocês que fazem o barulho?"
(...)
Contaram-me que na segunda-feira havia 4 alunos da sala.
Hoje, não sei quantos terão ido...
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8 comentários:
A Verdade é que o Ensino continua uma música desafinada...
Abraço.
Tinta, é difícil afinar, muito difícil. Muita coisa teria de ser alterada.
pois é meus senhores!
E com os professores de música - os verdadeiros!! - fora do grupo de professores, vejo o futuro muito negro!
E estes momentos "desafinados" desafinam tudo o resto. Retiram sentido ao aprender, ao saber, ao pensar...
As crianças sabem o que querem são honestas e...também "sabem" com quem fazem barulho ;)
Hello!
Bom, como sabes, também eu faço parte do grupo de professores das pomposamente designadas "actividades de enriquecimento curricular".O que se passa é que os meninos do 1º ciclo não estão habituados a ter de lidar com mais do que uma professora e em casa os meninos são avisados que as disciplinas como o Inglês e a Música não contam para a nota final. Assim, torna-se complicado manter a disciplina.
Na escola em que estive este ano as professoras titulares fizeram a vida negra às professoras de música, porque todas elas eram professoras de 1º ciclo...comigo não se meteram porque não deixei e porque não sabem do que falam. Infelizmente é assim. Pertencemos à pior classe profissional.Sou licenciada e elas são bacharéis.O meu estágio já aconteceu há uns pares de anos, chegou-me a supervisão. Tenho 26 anos e a tentar começar uma carreira que teima em fugir, mas não é por isso que vou deixar que interfiram no meu trabalho.
Já agora, as professoras em questão resolveram interromper as aulas de música para explicar aos meninos que a disciplina não conta para a nota final...nas de Inglês (de uma colega) resolveram entrar para explicar que os testes eram proibidos por lei. Somos pagos à hora e a recibo verde. Estaremos 3 meses no desemprego.
Desculpa se fui ríspida, não era intenção minha. Considero apenas que a nossa situação é demasiado ingrata e julgo que compreendes isso.
beijo
olá!
Não sei o que se passa na tua escola, na minha não é bem assim...
As professoras do 1.º ciclo da minha escola (e de praticamente todo o agrupamento) são também licenciadas.
Eu é que não sou, nem faço tenções de ser.
Nem por isso me sinto superior nem inferior a ninguém!
Na minha escola TODOS os professores dos prolongamentos (ed. física, inglês e musica, ao todo são 6) são respeitados, à excepção desta senhora, que nem professora é.
Não é por aí!
As pessoas têm de se fazer respeitar perante os alunos. Por isso eu deixei de interferir nas tais "aulas". E das vezes que interferi, fui sempre à sala "buscar alguma coisa" e aproveitava para pôr um pouco de ordem naquela bagunça inimaginavel...
Mas nem assim a senhora aprendeu nada.
Até dois dos meus alunos que são uns "paz de alma" se portavam mal naquelas aulas!!
Para dar aulas é preciso vocação (ou jeito), chama-lhe o que quiseres, que aquela senhora não tinha.
E até já estou a falar no passado, porque se eu for ouvida no processo de contratação de novos professores, ele não entra lá!
Eu sei muito bem como é o vosso trabalho, converso bastante com os colegas dos prolongamentos. Os da minha escola nas ferias do carnaval ainda não tinham recebido nenhuma vez!!
É este desrespeito que os centros que vos colocam não deviam admitir!
Tanto quanto sei, no próximo ano as coisas irão ser diferentes.
O teu caso também me parece ser diferente - para melhor - do que o da minha escola.
Ali os professores estavam 45 minutos e iam embora, não tinham nada a ver com a escola. Pelo que contas, no teu caso pertences ao corpo docente da escola, o que é muito melhor para todos.
A minha opinião é que vocês deviam ser colocados por escola ou por agrupamento e pertencer lá, com os mesmos direitos e os mesmos deveres de todos os outros.
Assim o trabalho de todos seria mais fácil e mais rentavel!
E não tens que pedir desculpa de nada: é para trocar ideias que os blogues são úteis!
beijinhos,
Margarida
(desculpa responder aqui, mas não tenho o teu e-mail)
..e se em vez de criticar,que tal uma ajudinha?
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