13 de abril de 2006

O meu avô Augusto

Este é o meu avô Augusto.
Não é um avô como os outros, o meu era um avô especial.
Muito pequenina (antes de completar dois anos) viemos, por causa do emprego do meu pai, viver para outra terra, deixando a casa dos meus avós maternos onde tínhamos vivido até então.
Naquela altura morar a 50 Km era uma distância considerável, mas depressa o meu pai comprou um carro em segunda mão, um Fiat 600, para podermos ir passar os fins de semana a Vale de Cambra, à casa dos meus avós.

O meu avô pressentia a nossa chegada e esperava-nos à porta.
Tinha sempre um abraço e um beijo especiais e um chocolate Regina no bolso do casaco...
Aqueles sábados à tarde sentada na cama dele a ouvir rádio e a comer uma tablete de chocolate à dentada (coisa que não fazia em casa!) ficarão para sempre na minha memória.
As fotografias que tenho de quando era muito pequena a ele as devo, pois apesar de ser muito raro na época, ele já tinha uma máquina fotográfica.

Poucos anos mais tarde, logo no primeiro dia de todas as férias (Natal, Páscoa e férias grandes depois da "época de praia") eu e a minha irmã pespegavamo-nos à porta de casa de mala em punho, à espera da camioneta da fábrica "do meu pai" que transportava diariamente o leite para Vale de Cambra e nesses dias também nos levava a nós!

As férias grandes que nessa altura abrangiam Setembro e ainda entravam por Outubro adentro eram as mais divertidas: porque eram maiores, porque o tempo estava bom para brincar no rio e porque incluíam as vindimas...
O meu avô tinha um alambique que nos proporcionava (a mim, à minha irmã e aos meus três primos) as brincadeiras mais mirabolantes que se possam imaginar, porque o bagaço depois de cozido numa enorme caldeira, era atirado fora formando grandes montes mesmo bons para brincar, rebolar, saltar, enfim...
Ainda hoje o cheiro da aguardente é um dos meus cheiros preferidos!

Em Julho era a vez dele tirar uns dias de férias e vir connosco para a praia da Costa Nova onde costumávamos alugar casa.
Dava grandes passeios de madrugada pela praia e trazia-nos sempre conchas, leques e búzios.
Preparava o pequeno almoço e só então nos acordava...

Muito novo ainda, com pouco mais de 60 anos o meu avô sofreu um AVC... Com altos e baixos (teve alturas em que chegou a conseguir andar com ajuda duma bengala, mas também teve períodos de internamento por problemas vários), viveu assim 11 anos, mas sem nunca perder a esperança de se recuperar e de voltar a passar férias connosco na praia...

Morreu na noite de 30 de Março de 1982 e eu ainda tenho saudades dele.

11 comentários:

afigaro disse...

"Saudades quem as não tem?"...Boa Páscoa.

M.P. disse...

Venho deixar os desejos de Boa Páscoa .. apesar da saudade existente por aqui neste "post" tão cheio de memórias! Tudo de bom.. **

CMatos disse...

Passei por aqui para lhe desejar uma Santa e Feliz Páscoa!

Caracolinha disse...

Oh querida ... que relato mais lindo ... :)

Uma beijoca encaracolada em forma de ovo de Páscoa !!!! :))))

Terceirense disse...

É sobretudo nestes dias que recordamos e saudamos o passado tão longínquo mas tão perto do nosso coração.
Fizeste-me voltar ao meu passado mas não encontrei o meu avô paterno, porque ele só ouviu o meu choro no berço e partiu sem se despedir de mim. Eu apenas sei que ele ouvia-me chorar e dizia: "Vai ter ouvido para a música". Ele era músico lá na freguesia da Serreta por entre o nevoeiro denso com o mofo a perfumar os fatos e os vestidos, mas era o nosso mofo. Quem me dera tê-lo conhecido e tirado umas prosas com ele. Quem sabe ele não me dava o chocolate que acabei por ter da mão dos meus pais, cada vez que eles iam à cidade. Na volta, lá estava eu à espera da camioneta e do abençoado chocolate... Agora não há chocolates... só há lembrança deles.
Uma Feliz Páscoa para ti e para todos que contigo partilham as saudades de chocolates...
Porque será que os avôs são tão devotos dos chocolates para brindar os seus netos?! É que o meu pai era viciado em dar chocolates aos netos... coisas de avô.
Feliz do neto que ainda tem chocolates da mão do seu avô.
Beijinhos

armando s. sousa disse...

Também recordo com muitas saudades o meu avô.
A sua morte foi o maior choque que tive até hoje, ainda por cima nas circunstâncias que aconteceu: O meu irmão casou-se num Sábado, eu casei-me na quinha-feira seguinte, era Junho, na segunda-feira 21, o meu avô morreu de ataque cardíaco fulminante.
Foram momentos angustiantes...
Um abraço e boa Páscoa.

Anónimo disse...

Todos os avós, os que podem ser chamados de avós, são diferentes e mágicos!

Gostei muito de ler o teu post.

A minha mulher é de Vale de Cambra...

Beijos,
Miguel

Miguel disse...

Saltapocinhas,

Os votos de uma Feliz Pascoa cheia de coisas doces ...

Bjks da Matilde

Cristina disse...

Uma Pascoa feliz para ti e para toda a familia
beijinhu GRANDE
:)

Anónimo disse...

Saltapocinhas,
Muito lindo o teu texto. Não conheci nenhum dos meus avós e é uma falta tão grande que me acompanha pela vida. Sim sei o que são saudades. Tenho saudades dos que não tive e dos meus pais que já morreram também. Mas é a vida.
Boa páscoa
Beijinhos

Anónimo disse...

Pouco frequentadora de blogs, só hoje li o texto sobre o teu avô. Que, claro, me tocou muito especialmente. Porque o teu avô era também o meu avô - e eu era (e sou!) um dos "três primos" das "brincadeiras mirabolantes" em férias e fins de semana que, quando estávamos juntos, eram sempre demasiado curtos!
E o nosso avô era uma pessoa extraordinária. Havia, sim, os chocolates, obtidos nos "furos" dos cafés. E a motorizada, com um avô e 5 netos encarrapitados. E o "fazei barulho à vontade, meninos!". E o "assim se amassa, assim se peneira, assim se dá a volta ao pão da masseira", com uma neta em cada joelho. E o rosto que "arranhava", com a barba mal feita, a esfregar-se no nosso rosto infantil. E os fascículos das "Aves sem ninho". E tantas, tantas coisas...
Ele pertence-nos ainda. E, em noites inesperadas, sonho muitas vezes com ele.

O Tempo Entre Costuras

O Tempo Entre Costuras by María Dueñas My rating: 4 of 5 stars View all my reviews