Aquele artigo que escrevi há alguns dias (in-justiças)tornou-se interessantíssimo pois deu origem a comentários e trocas de ideias muito sérias e muito válidas.
Deu também origem a uma "discussão" sobre a origem do português entre o AFIGARO e a "senhora Anónima".
Posso dizer que esta "senhora anónima" é uma brilhante professora de português ( e não digo mais nada porque ela não quer...) e o comentário final dela é de tal forma útil para todos que não resisto a publicá-lo aqui. Aprender algo todos os dias é bom e faz bem! Por isso fiquem com a lição de hoje:
Ah, que surpresa! Tenho andado "longe" destas "vias", atarefadíssima por razões de vária ordem... e afinal descubro hoje que o meu interlocutor voltou a dirigir-me a palavra! E eu sem saber!
E descubro que a D. Saltapocinhas gosta de nos ouvir! Então... olá! Embora esteja com uma certa (muita!)falta de tempo, não posso deixar de discordar do meu amigo Afigaro. Claro que o latim é a nossa língua-mãe, sim senhor! O latim, mais propriamente o "latim vulgar" (assim chamado porque era usado pelas classes menos instruídas, e se distanciava já do latim erudito falado pelos sábios em Roma), foi trazido por comerciantes (mercadores) e militares para a nossa Península Ibérica. Depois há uma longa história de imposições, de invasores, de romanos vencedores; e foi esta língua, imposta aos vencidos e por eles utilizada, que evoluiu e deu origem ao nosso português. É por isso que o Português é uma língua românica ou novilatina, tal como os "seus irmãos" espanhol, francês, italiano, romeno, entre outros!
Mas, tal como os seres vivos, as línguas não têm apenas mãe e irmãos - têm muitos outros "parentes"! Já não vou falar do avô Indoeuropeu, porque é muito remoto, mas dos padrinhos: os substratos e os superstratos.
Parece complicado, mas não é: o substrato é constituído pelas palavras e expressões que já existiam aqui (há muito tempo, claro, em épocas anteriores à romanização!) e "sobreviveram" à imposição do latim, misturando-se numa nova língua. Os mais importantes são o substrato grego, o ibero e o celta! E o próprio latim trazia palavras já "importadas" aos gregos, que eram muito cultos! (Mas, mesmo apesar de todos os seus vestígios, o grego não é a nossa lingua-mãe). Depois, há outro tipo de padrinhos, a que se chama superstrato - todas as línguas que nos influenciaram e vão influenciando depois da consolidação, deixando as suas marcas. Aqui encontramos, primeiro, o "tio" germânico ( digo tio porque também é língua indoeuropeia!)e o árabe, por exemplo (todos conhecemos as inúmeras palavras de raiz árabe como Algarve, alface, albufeira, oxalá, etc, etc...); mas as influências no nosso vocabulário continuam a surgir e intensificam-se presentemente. Temos marcas de todos os estrangeirismos que vamos assimilando: primos, até irmãos como o francês, hoje em dia, muito, o inglês(sobretudo por causa de todos os tecnicismos ligados à informática) e...sim, tem razão, sofremos uma americanização! No campo do vocabulário não seria muito grave esta submissão; mas o pior é que ela reflecte toda uma mentalidade doentia de procura de poder... e eu não consigo conceber os atropelos aos Direitos humanos a que assistimos, em pleno século XXI, sem podermos fazer nada!!!
Ui, bem se diz que a conversa é como as cerejas! Onde já vamos... E - socorro!!! - eu perdi-me, ainda não jantei, e tenho ainda muito que fazer. Mas gostei de "meter mais uma colherada no diálogo"!
(Ah, ja agora, rebato só mais uma coisinha: o hebraico e o aramaico de que fala são línguas semíticas e pouco têm a ver com a evolução da nossa Língua).
E já agora, como estou a monopolizar a toca da Saltapocinhas, vou assinar com o nome com que ela me "baptizou".
Cumprimentos da Senhora Anónima
24 de outubro de 2004
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6 comentários:
Uma excelente lição de Português. Imprimi e guardei:):)
Fico à espera de mais. Uma boa semana. aflores/ailaife blog
Olá! ... Gostei imenso do que li e a maneira simples e bem humorada com tudo foi exposta facilita a leitura...Muito,MUITO ÚTIL! :)Fico, como diz, o comentário anterior, à espera de mais! :)**
A pedagogia no virtual também tem lugar...E então no que toca ao luso idioma...SEMPRE!
Fica bem e intés!!
Saltapocinhas, e que grande lição que hoje nos impuseste. É pena que estes pequenitos orgãos de comunicação sejam ainda desconhecidos para uma grande maioria, porque de certeza que muita gente ia melhor servida do que nos restantes que existem e que já são controlados há muito, muito tempo. Obrigado. Este coment apesar de anónimo, não o é, pois sou e serei sempre, Espectro #999 e tenho território em Delírios Ascii. Espero uma visita da tua parte. Beijos.
E agora, Senhora Professora?... em meados do século XXI, o português será língua morta, ou plebeia para uns tantos? Estaremos condenados a ser "colonizados" pela língua inglesa? Por favor,diga o que pensa! Julgo que o seu comentário vai despertar a atenção de muitos a começar por mim.
Definitivamente, estou surpreendidíssima! Primeiro, porque o blog da D. Saltapocinhas foi o primeiro que comentei (e o primeiro que visitei na vida!) e quando o fiz nunca teria imaginado ser "apanhada" por estas coisas virtuais. Costumo ter os pés tão assentes na terra...
Segundo, porque "caí das nuvens" quando encontrei um comentário meu (ainda por cima "saído de rajada" num momento de entusiasmo) elevado à categoria de texto publicado "para debate"!
Terceiro, porque estou admirada comigo mesma ao experimentar esta vontade irresistível de corresponder à solicitação do meu já habitual interlocutor... e de voltar a escrever, apesar de todos os contratempos e afazeres que estes últimos dias me têm reservado (e que justificam a minha ausência!) Mas o assunto é para mim tão apaixonante!...
Por isso, e para sintetizar, ocorre-me uma célebre frase do nosso grande Fernando Pessoa: "A minha pátria é a Língua Portuguesa". E uma pátria com tantos milhões de "habitantes" não se pode extinguir assim, de repente, no nosso século XXI.
Nós somos um país pequeno, é certo, mas não podemos esquecer que o Português é a Língua-Mãe de milhões de lusófonos em todo o mundo. O Brasil, embora absorva muitos mais estrangeirismos que nós e os transmita para cá continuamente, tem feito um enorme esforço na divulgação e no estudo da nossa língua, tal como os países africanos de expressão portuguesa, que neste momento já se começam a impôr através da literatura. E, vindos de um lado e do outro, surpreendem-nos grandes nomes como Jorge Amado ou Carlos Drummond de Andrade, Mia Couto, José Craveirinha... para não citar tantos outros que, orgulhosamente, fixam para a posteridade essa língua-pátria.
A própria obra de Fernando Pessoa faz com que inúmeros estudiosos do mundo (até americanos) estudem português propositadamente para poderem fruir esse enorme património que, tantas vezes, ignoramos! Pessoalmente, senti-me muito emocionada quando, há tempos, durante as reportagens televisivas daquele massacre que ninguém pode esquecer, em Timor, ouvi as pessoas (tão remotas, tão distantes!) a rezarem em português! E as nossas marcas subsistem, ainda hoje, até no Japão.
No entanto, concordo que a globalização a que assistimos tenta empurrar o inglês para língua universal, e os computadores se calhar são grandes responsáveis nessa uniformização. Basta ver a quantidade de palavras inglesas que usamos na esfera das novas tecnologias de comunicaçao! (a propósito, a palavra informática é uma palavra híbrida, resulta de "informação"+"automática").
Mas acho que, apesar de tudo, podemos ter esperança. Na Idade Média sim, o português foi considerado língua plebeia ou "vulgar" (mas esse tema pode ficar para outro dia, se o meu amigo quiser! Agora não posso mesmo alongar-me) e conseguimos sobreviver e crescer!
A propósito de Idade Média, só posso lamentar que a literatura medieval (Fernão Lopes, a própria poesia trovadores, tão interessante!) tenha sido totalmente banida dos programas de 10º ano de Português! O próprio Gil Vicente, o nosso pai do teatro, mestre Gil, foi afastado para dar lugar a outras "coisas" - foi nesse espaço que surgiu o tão contestado regulamento do Big Brother(!!!) e alguns contos de proveniência duvidosa! São as metodologias do nosso Ministério da Educação!Coitadinhos dos nossos jovens!
E acho que foi o mesmo espírito que presidiu à deslocação da imortal epopeia de Camões, "Os Lusíadas", do 10º para o 12º ano, argumentando que os alunos teriam maior maturidade nesssa altura! Enfim, um atestado de mediocridade!
Bem, perdoem-me o desabafo! Por agora, não posso mesmo deixar-me arrastar mais. Obrigada pela paciência! Até... qualquer dia!
A sério que não sei mesmo assinar nos "coments"; mas parece que me mudaram de novo o nome... Por isso: Cumprimentos da Senhora Professora
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