19 de outubro de 2005

A Elsa

Uma indignada professora de português do ensino secundário contava-me há tempos uma história que se passou numa aula dela e que a deixou de cabelos em pé:
Depois de uma aula a falarem de Eça de Queirós, uma aluna interessada queria saber mais coisas.
E então perguntou onde havia de procurar a biografia "dela".
Depois dum daqueles diálogos de surdos, a professora chegou à conclusão de que "ela" era a Elsa... a Elsa de Queirós!
A rapariga tinha estado a aula toda convencida que "Eça" era uma ela que se chamava "Elsa"!

Eu não fiquei nada admirada nem surpreendida, muito menos indignada com a história: afinal a rapariga nunca na vida dela tinha ouvido falar de tal escritor, daí a confusão...
Isto acontece porque os livros de Língua Portuguesa são de uma pobreza franciscana no que toca à variedade de autores.
Desde que comecei a trabalhar, há 25 anos que os textos se repetem nos manuais num "copy/past" sem fim.
Os autores são sempre os mesmos e os excertos são sempre dos mesmos livros, chegando a ser exactamente iguais...
Uma vergonha!

Se um professor se acomodar e se limitar aos textos dos manuais, as crianças vão ficar completamente ignorantes no que respeita a autores, não sendo de admirar que cheguem ao 12º ano a pensar que o Eça é uma Elsa!!

10 comentários:

«« disse...

tentei ler algumas das obras que fui obrigado pelos professores de português e, depois de velho (vá lá só tenho 41 anos), continuo achando uma chatice...é que a malta nova já não vai no fado, precisa de coisas "arejadas" será pecado? seerá ignorância. Porque raio um jovem que adoro os U2 havia de gostar dessas histórias cinzentas (nem todas são, claro)?

Sonia Almeida disse...

pois, mas no 12º anos uma pessoa já é crescidinha, e tem obrigação de saber que existiu um senhor chamado Eça de Queiroz. eu sabia, e vinha da área de ciências.
beijinhos

Anónimo disse...

Sim, a Eça de Queiroz é uma gaija fixe...curto muito :)))))))) e o Pai? Grande maluco ;)

Didas disse...

E a acrescentar a isso não vale a pena tapar o sol com a peneira. Há mesmo miúdos que são tronguinhos de todo e profes que são uns chatos que ninguém aguenta... além de manuais que de qualidade só têm o papel e o preço.
Claro que também há os outros... os bons. :)

Anónimo disse...

É muito complicado ensinar nos dias que correm pois num tempo em que a informação está cada vez mais acessivel para as pessoas, existem ainda muita gente que nem sequer se interessa em saber um pouco mais! Enfim... jocas

Lia Noronha disse...

São as desagradáveis surpresas na sala de aula.Faz parte...desse ato contínuo e descontínuo de educar!
Boa noite e beijos carinhosos.
Obrigada pelo carinho no meu Cotidiano.

Mocho Falante disse...

Olha o que dizes é bem verdade, também já para não falar de que há autores bem interessantes que nunca são abordados e por isso não me admiro que os alunos se desinteressem facilmente pelas disciplina quando esta deveria ser das mais importantes...

Lembro perfeitamente de ter de lamber com o Eurico o presbitero... na altura quase morri de tédio

Anónimo disse...

Pois eu sou uma daquelas que prescindia facilmente do manual, principalmente no ensino da Língua Portuguesa. São caros, muitas vezes deixam imenso a desejar em termos científicos, são maçadores, têm textos que são em grande parte desinteressantes, para já não falar dessa patetice dos autores e das obras obrigatórias. Afinal o que andamos a criar: jovens que passem a encarar o livro como um inimigo, ou jovens que gostem de ler e o saibam fazer criticamente?

Anónimo disse...

A anedota que não é anedota deixa-nos a pensar. É certo que a literatura tem a sua época. É certo que há um tipo de escrita que não tem a ver com a linguagem de hoje. É certo que um Aquilino Ribeiro, por exemplo, é mais actual e tem uma escrita difícil.
Mas duvido que essa menina leia um Lobo Antunes, um Cardoso Pires ou até um Saramago. Não terá a ver com a actualidade da escrita, mas com a curiosidade e interesse pela leitura propriamente dita.
É uma pena. Porque nem sabem o que perdem!

Macro disse...

Olá Elsa,
sou um modesto cultor de Eça..Já lhe ouvi chamar muita coisa, mas no feminino jamais...

Estamos sp a aprender. Dantes dizia-se que em Política tudo era possível menos transformar um homem numa mulher.

Hoje isso caíu por terra... E, afinal, o Eça parece que era uma Mulher, ou era Homem e apresentava-se no feminino.. Sou capaz de blogar essa da "Elsa" - se a Elsa deixar...é claro.

Best
RPMatos
http://www.macroscopio.blogspot.com
http://www.culturanalise.blogspot.com

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