20 de janeiro de 2006

Histórias de interruptores

Um dia destes o meu filho contava dum colega que tem um avô que, quando uma lâmpada lá de casa se funde, põe a culpa no desgraçado que teve o azar de ligar o interruptor no momento fatídico...
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Nesta altura as caixas de correio dos nossos computadores ficam atafulhadas de caricaturas dos candidatos, gaffes dos candidatos, foto-montagens com os candidatos, enfim...
Pela minha parte fiz o favor à humanidade de não reenviar nenhum!

Mas admira-me que ainda hoje, tantos anos passados, as duas maiores críticas feitas ao candidato Soares sejam precisamente duas situações em que ele não tem (teve) nenhum poder de interferir: a idade e a descolonização.
Recebi mensagens de verdadeiro ódio contra Soares, escritas por pessoas que viveram em África e sofreram e ficaram traumatizadas com a descolonização.
Quem cá estava nessa altura sabe o caos que por aqui ia...
Não se sabia muito bem quem mandava em quem, quem ditava leis hoje amanhã poderia já não o fazer...
Se cá não se conseguiam controlar as situações, como controlá-las lá tão longe?
Se vamos arranjar culpados para o desastre que foi a descolonização temos de recuar até à altura em que começou uma guerra que jamais devia ter começado.
Nessa altura, com calma as coisas deviam ter sido negociadas a bem de todos.
E as pessoas que viviam nesses países em guerra deviam pelo menos ter uma ideia de que aquela situação não se poderia prolongar indefinidamente e que, como todas as guerras, não iria ter um fim muito feliz!
Eu gostava de saber o que pensam hoje essas pessoas que vieram de África e que agora têm filhos com 19 ou 20 anos o que achavam se lhes pegassem nos filhos e os mandassem para uma guerra absurda, do outro lado do mar, para uma terra que nunca tinham visto, que não conheciam nem amavam nem queriam defender!
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Mário Soares foi apenas o homem do interruptor!
(e isto não é campanha eleitoral que eu nem vou votar nele... pelo menos não na primeira volta !!)

14 comentários:

Anónimo disse...

Não estava ainda viva na época, mas pelo que tenho estudado e me têm contado, foi uma época confusa e o processo de desconolização um pouco precipitado. Contudo, parece-me que sempre foi melhor do que a continuação de uma guerra absurda que ceifou tantas vidas e marcou muitas outras para sempre.

Anónimo disse...

ups... inventei uma palavra nova... queria dizer descolonização...

saltapocinhas disse...

@@PN: Processos de descolonização demoram anos e as negociações devem ser feitas em tempos de paz!

Mocho Falante disse...

é um tema quente e muito sensivel, procurar culpados não é tarefa fácil nem sei se nesta altura faz sentido, mas também posso estar a falar da boca para fora porque felizmente não passei por esse dificl processo de regressar sem nada

bom fim de semana...e bom voto

Caracolinha disse...

100% de acordo com o que dizes neste teu comentário ao teu próprio post amiga saltapocinhas ... :)

Beijoca encaracolada :)

António disse...

Parabéns por este teu excelente texto.
Vem contrariar ideias que de tão repetidas acabaram por se tomar por verdadeiras.
Concordo inteiramente contigo.
Estava em Luanda, na Armada, quando eclodiu o 25 de Abril. E percebi perfeitamente que, quando há uma guerra e um dos contendores se recusa a combater (que foi o caso da maioria esmagadora dos soldados portugueses para quem o 25 de Abril foi, sobretudo, o fim da guerra) a sua capacidade negocial fica reduzida a zero.
O único processo de fazer uma descolonização negociada nessa altura, seria antes do 25 de Abrl.
Mas a altura ideal teria sido nos finais dos anos 50, quando os líderes Amilcar Cabral, Agostinho Neto e Eduardo Mondlane, com estudos feitos em Portugal e elevado portuguesismo, procuraram negociar uma independência a prazo.
Mas o ditador não quis...

Beijinhos

saltapocinhas disse...

@@ANTONIO: Complementaste muito bem o que me faltou dizer. É exactamente o que penso e é o que seria correcto: fazê-lo na altura certa com gente culta e que percebia portugal porque viveram aqui e que percebiam áfrica porque eram africanos. Tinha-se poupado muito sofrimento a muita gente!

O Turista disse...

Eu tb não vou votar nele hoje... mas numa 2ª volta...
Quem sabe?

O Turista - http://www.turistar.blogspot.com

Anónimo disse...

Muito bom post, saltapocinhas e bela analogia com o responsável pela lâmpada fundida.
Eu, sou desse tempo, e em comparação com outros países ( ver Argélia, ver Congo ) Portugal fez maravilhas na integração das pessoas que de lá vieram. Nunca se podia ter sol na eira e água no nabal...
Nós somos tão despachados a comparar-nos com os outros países quando a comparação é em nosso desfavor, seria interessante ver como foi que os países colonizadores europeus resolveram os seus casos!

Politikus disse...

Se não votas em Mário Soares na primeira volta não votarás com certeza na segunda. Ou seja não votas Soares. De facto tens razão Mário Soares pode ter feito muita asneira na sua vida, mas essas duas que apontas, não são de certeza. Dou-te a total razão...

Wakewinha disse...

Sabes que muita gente gosta de falar de cor, mas infelizmente essas pessoas hoje vão ser a maioria, e por isso teremos pela primeira vez um candidato de direita na PR! E valha-nos Deus... Infelizmente receio que não vai haver uma segunda volta para que votes no "bochechas", e para que ele tenha uma oportunidade! A ver vamos...

Kalinka disse...

Eu gostava de saber o que pensam hoje essas pessoas que vieram de África e que agora têm filhos com 19 ou 20 anos o que achavam se lhes pegassem nos filhos e os mandassem para uma guerra absurda, do outro lado do mar, para uma terra que nunca tinham visto, que não conheciam nem amavam nem queriam defender!
ESCRITO POR TI...nada inventei, no entanto, posso fazer a mesma pergunta, quanto aos soldados portugueses que têm ido para a «Guerra do Golfo» e agora, para a do Iraque e outras que tais...?
No meu fraco entender, acho que Portugal tinha muito mais a ver com as ex-colónias (colónias naquela época), para acontecer os filhos irem para a guerra de lá, do que tem a ver com estas guerras recentes.
E, faço minhas as palavras do Mocho, pois para quem veio de lá, com uma mão à frente e outra atrás, e teve que começar a vida de novo, também não deve ter sido nada fácil.
Não se pode analisar a situação só por um lado...Beijo.

saltapocinhas disse...

@@ KALINKA: eu não analisei a situação só por um lado! Se leres com atenção vais ver que não.
Quanto aos soldados que agora vão para outras guerras a diferença é abismal: estes são VOLUNTÁRIOS!

Anónimo disse...

E apesar de tudo muito bem correu a nossa.. França tem marcas muito mais profundas.. Claro que deve ter havido erros, mas tudo nessa época tinha grande probabilidade de se errar

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