21 de novembro de 2005

Coelhices

Na semana passada recebi por mail este artigo chamado "Construir um país", da autoria de Eduardo Prado Coelho, publicado no Público:

Precisa-se de matéria prima para construir um País

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós.
Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler" e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não.
Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa.
Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar.
Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... Medite!

Eduardo Prado Coelho

A quem mo enviou, eu respondi assim:

- Eu NÃO trago coisas do trabalho para casa, normalmente faço o contrário.
- Eu separo o lixo apesar de depois o ter de ir levar de carro porque não há nenhum ecoponto perto de minha casa (e podia aproveitar a voltinha depois do jantar para o fazer mas no inverno a voltinha fica suspensa até virem melhores dias porque entre outras coisas, não há passeios nem iluminação na minha rua!)
- Eu não chego atrasada aos meus compromissos
- Eu não deito lixo para o chão e ensino os outros a também não o fazerem
- Eu pagaria o jornal mesmo que não estivesse ninguém a tomar conta
- Eu tenho TV por cabo e pago uma mensalidade - imoral, mas pago
- Eu dou passagem nas passadeiras de peões apesar de também haver muitos que as não sabem utilizar
- Eu gosto de ler, leio e incentivo os mais pequeninos para a leitura
- Eu olho-me ao espelho e a imagem que vejo não é a de uma irresponsável...

Quanto ao senhor Prado Coelho, ele lá sabe o que vê no espelho dele...

13 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Querida Salta-Pocinhas

Subscrevo na íntegra o que o Prado Coelho escreveu. Eu há vários anos que ando a dizer exactamente o que ele disse.

Subscrevo, igualmente na íntegra, os teus comentários, pois, tal como tu, também não me revejo no que ele disse. Porque, tal como tu, também cumpro o meu dever (por vezes até em excesso).

Mas isso não nos deverá impedir de ver que tendencialmente o povo português é exactamente como ele escreveu. E isso é que é o grave problema nacional. E não é de agora. Já dura há muito, muito tempo.
Resumindo, não estou de acordo contigo.

Beijinhos

Pekala disse...

Respondo-te no meu blog***

Mocho Falante disse...

Ó Prado Coelho, toma e embrulha!!!!

É assim mesmo salta pocinhas

Anónimo disse...

Deve ser o problema de quem é da mesma cor partidária ou até já disse bem de todos ou então de um ser incauto armado em anjinho. Bjos

Amaral disse...

O teu espelho parece estar limpo por dentro e por fora. Tarefa que é o mínimo que podemos e devemos (todos) ter sempre presente, diariamente. Os "stress's" da sociedade baralham os deveres de cada um. Mas sempre é indispensável estarmos de bem connosco e com os demais, sendo que a harmonia dum todo passa primeiramente por cada um em particular. O que não é fácil entender nos tempos complexos de hoje...

Art&Tal disse...

pois é
lá dei com o bendito blog
o da mulher bonita que nao usa peles

Anónimo disse...

Quando olho para o espelho, vejo alguém que nem sempre tem paciência para mais um dia, mas, que após um sorriso está pronto para tudo, até para receber pela sétima vez o maldito mail com o referido texto. Boa semana e não te zangues muito que faz mal à saude

Anónimo disse...

Pois.. ai... Bj

mfc disse...

Quem cumpre tem o direito de exigir!
Gostei da tua resposta...foi na mouche!

peciscas disse...

O Prado Coelho embora com os exageros que lhe são próprios, não deixa de ter alguma razão.
E ele fala de uma forma geral. Claro que há muita gente a lutar contra a corrente e a fazer as coisas como deve ser. Mas a nossa mentalidade colectiva tem de sofrer algumas mudanças radicais.
Nós, os profes, podemos dar uma ajudinha em tudo isto. Mas é uma tarefa difícil, porque há hábitos nacionais que estão entranhados.

Hoje, o PECISCAS divulga a sua Comissão de Honra e a lista de Mandatários Nacionais da candidatura à Presidência (P.A.P.A.S.)!

Anónimo disse...

hum... o q eu discordo mm é do título, eu punha "precisa-se de país para construir uma matéria -prima"! ;) eh eh eh!
falando a sério: concordo c mt do q EPC escreveu :( e fico triste q assim seja! claro q os nossos espelhos ñ são todos iguais pq o q está do outro lado a reflectir tb é diferente, cada um de nós deve sentir-se seguro daquilo q vê... e (cm diz EPC) reflectir s/isso!

José Gomes da Silva disse...

Ó Saltapocinhas! O que é isso a blasfemar? Eduardo Prado Coelho não vê nada quando se olha ao espelho porque é Deus! Ora essa! Veja lá se tem mais juizinho para a próxima, ok?

Bjs

Anónimo disse...

Alguém sabe se este texto foi escrito pelo EPC ??

Alguém confirmou a fonte ?

Eu já vi outra versão deste texto adaptado ao Brasil.

Eu gosto deste texto e acho que reflecte a atitude do povo português.

O Tempo Entre Costuras

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