Tenho algumas imagens da cena ainda na memória, embora muito vagamente:
a cozinha da minha avó, o banco corrido de madeira ao pé da lareira, a minha mãe e uma outra mulher (penso que era tia da minha mãe).
Lembro-me de essa mulher dizer à minha mãe que me devia educar (ou algo do género) pois uma criança não devia tratar os pais por tu.
Creio que foi a partir desse dia que comecei a tratar os meus pais por "você".
Ainda hoje tenho uma certa inveja de quem trata os pais por tu.
Parece-me um tratamento mais carinhoso e "aconchegado" que o tratamento por "você".
______________________
Neste caso mais que falado da rapariga-do-telemóvel-e-da-professora, ouvi muitas vozes (incluindo ontem nos prós e contras) a referir, como sendo uma grande falta de respeito, o facto de a rapariga tratar a professora por tu.
Os meus alunos são pequeninos e tratam-me por tu.
Nunca me passou pela cabeça exigir-lhes outro tratamento, embora saiba que no 2.º ciclo já lhes exigem o tratamento por você, e até já ouvi algumas críticas ao 1.º ciclo por tanta "proximidade".
Os meus alunos tratam-me por tu e nunca considerei isso como uma falta de respeito, antes pelo contrário: é um sinal de afecto.
No "caso do telemóvel", escandaloso foi, para muitos, o tratamento por tu.
Assim sendo, se a rapariga tivesse dito, em vez de "dá-me o telemóvel já", "dê-me o telemóvel já", seria muito menos grave?
7 de abril de 2008
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11 comentários:
Concordo. Eu sempre tratei os meus pais por tu e mesmo os meus avós maternos e isso nunca foi significado de falta de respeito. Não é o tratamento por tu ou você que indicam o respeito pelo outro, é a maneira como se "trata" a pessoa.
saltapocinhas:
Já lá está!
Também nunca tratei os meus avós, os meus pais ou os meus tios por tu. Já os meus filhos - e agora os meus netos - sempre me trataram por tu e ao resto da família. E ninguém parece incomodado. São outros os tempos. Concordo que não se trata de falta de respeito, mas de uma proximidade maior. E afectuosa. Na pré também tratam e trataram as professoras por tu.
Abraço da Sol!
Lá está,
O respeito não se impõe, conquista-se e formalidade não é sinónimo de respeito.
Sou (como já te contei), filho de mãe solteira, que me educou, ensinou uma grande parte de tudo o que sei hoje, e fez de mim o homem que me honro ser. Ela detestava o termo "você" e eu (e a minha irmã), sempre a tratamos (com todo o respeito e carinho) por MÂE (por TU). Hoje, já casado e com dois filhos, o "hábito" é o mesmo, pois cá em em casa os meus filhos sempre me tratarm por TU, e....mais engraçado ainda, muito cedo a minha filha mais nova começou a chamar o pessoal pelo nome...:):)o que causou alguma confusão principalmente aos avós, que fácilmente se habituaram. O respeito é uma coisa muito linda, grátis, fica muito bem, e nada tem a ver com "formalidade". Talvez por pertencer a uma geração sujeita a "mudanças constantes", continuo ainda hoje a ver com "maus olhos" atitudes de falta de respeito e educação, que não é o caso, de tratar os Pais por TU. Mas esta é a minha opinião.
Tratar por "tu" ou por "você", não significa ter mais ou menos respeito. Eu respeito o meu cão e trato-o quase sempre por tu, mas quando ele faz asneira da grossa, dou comigo a dizer: Está parvo, ou quê? Faço-o sem pensar, mas, na verdade, quando estou a tratá-lo por "você", estou a tentar distanciá-lo de mim. Deve ser isso...
A menina foi mal educada de todas as maneiras... essa é mais uma!
ola margarida.
os meus alunos tambem sao pequeninos e tratam-me por tu. ja tive outros que me trataram por você. concordo contigo. tambem nunca senti que a falta de respeito começasse por ai. fala-se muito na relaçao pedagogica. creio que se podia começar a reflectir mais nela.
beijinhos
Não dá para apenas o espaço de um comentário o que se pode dizer sobre isso.
Por um lado levantas a questão do respeito. E é um ponto muito, muito importante. que deve existir para se poder viver harmoniosamente em sociedade. Devemos mutuamente respeito uns aos outros. E mesmo «entre pares». É fundamental respeitarmo-nos como pessoas, como seres independentes, seres humanos, novos, velhos, importantes, zé-ninguéns.
Por outro lado existem manifestações de respeito que são normas sociais. Aprendemos em criança. O modo como se trata a outra pessoa, para além da postura, da atitude, existe uma linguagem corporal importante que é respeitosa ou não.
E depois existe a linguagem propriamente dita. O português é uma língua complicada e esse nível. Se falarmos inglês, sabemos que o verbo (que aliás é quase sempre igual) pode ter uma forma quando falamos de nós e outra quando falamos para outro, seja ele quem for. Mas nós temos a tal segunda pessoa do singular, o TU, e a terceira pessoa, que pode ser o você, o senhor, ou até o nome da pessoa com quem se está a falar - "a Joana sabe que..."
Tratar os pais e familiares por tu é uma coisa recente (menos de um século) e até estratificado socialmente. Passa-se sobretudo na classe média - a gente mais humilde, tratava o pai e mãe na 3ª pessoa, e as pessoas mais 'elegantes' tratavam-se todos na terceira pessoa, mesmo entre irmãos e pais para filhos. Era uma questão social.
Para mim isso não tem a ver com respeito, é uma aprendizagem, e é cultural. As crianças pequeninas tratam todos por tu, porque é mais fácil, e isso inclue as educadoras. Já no 1º ciclo creio ser menos frequente, e seria altura de começar a distinguir esses aspectos da nossa língua. No secundário, e no caso em questão que tem dado para tudo, prova um certo descontrolo. Não é natural tratar o professor, o contínuo, a senhora da secretaria, o condutor do autocarro, o vendedor do supermercado, o homem dos jornais, o pasteleiro que nos serve a bica, a costureira, o médico, o varredor da rua..... por tu. Em português não se usa. Em inglês diz-se you. Tão simples como isso, para mim.
Aqui na net, tratamo-nos por tu (muitos de nós) por ser um local um tanto fóra do mundo normal e das suas regras sociais.
Realmente a questão não é bem a aluna tratar a professora por TU, é mais a forma como a tratou... Mas também vamos lá ver, eu acho que a professora estava a tratar a aluna por você, não era?...
Beijos
Parece-me que um adolescente não deve tratar os professores por tu. Enquanto professora, nem eu tratava os alunos por tu. E nunca tive chatices. Os miúdos pequeninos é diferente.
Ñ concordo q os filhos chamem os pais de "TU" ou "VC". + sim de "SENHOR(a)". Essa foi a educação q meus pais me deram.
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