4 de julho de 2006

(não escrevo palavrões)


Este ano os boletins de matrícula para o 5.º ano parecem um interrogatório: querem saber tudinho!
Não basta escrever "operário" na profissão, é preciso especificar exactamente o tipo de trabalho que se faz.

Por isso, quando perguntei ao pai do meu único aluno que vai para o 5.º ano "profissão?" ele respondeu que não sabia... Que deixe ficar sem nada que a "outra senhora" que também lhe preenche papéis também não escreve nada na profissão...
Mas eu (que sou mazinha, porque estou fartinha de saber) insisti: "mas qual é a sua ocupação? O que faz durante o dia?"
"Nada" (boa resposta!)
"E porque não procura um trabalho?"
"Porque ando na escola"
(nota aqui da redacção: este senhor tem 37 anos e "anda na escola" desde que eu o conheço, há 8 anos. Sabe assinar o nome e pouco mais... E continua na escola!)
"E vive de quê?"
"Dos rendimentos" (rendimento mínimo dele, da companheira e dos abonos dos filhos de ambos)

(pausa para respirar fundo...)

E eu ali a trabalhar para ele duas vezes: a preencher os papéis do filho que ele devia preencher, e a descontar parte do meu ordenado para ele e outros como ele.
Mas a culpa não é dele! O dinheiro cai-lhe do céu (os anjinhos somos nós!), para que há-de aborrecer-se?

As únicas obrigações dele (e ele é dos poucos que até cumpre!) é ir à escola (eternamente??) e mandar os filhos à escola...
Mas os pais dos "outros" meninos também os mandam à escola!
E nem recebem nada por isso, antes pelo contrário!!

Não entendo por que motivo não se arranjam ocupações para estas pessoas: não há por aí jardins para tratar, escoadouros para desentupir, muros para pintar, matas e caminhos para limpar?
Então ponham-nos a fazer alguma coisa, irra!
Assim quem trabalha não se sentirá tão insultado!

17 comentários:

Crescer Sem Limites disse...

Concordo plenamente que somos nós a descontar parte do nosso ordenado para ele e outros como ele.
Continuams a ser anjinhos!
Fernanda

saltapocinhas disse...

Olá Fernanda! bem vinda!

Crescer Sem Limites disse...

saltapocinhas

Conheço o Blog dos Golfinhos e já dei os parabéns.
Espero contacto para o próximo ano lectivo.
Boas férias!
Fernanda

jp(JoanaPestana) disse...

eles arranjar até arranjam. Saberá por acaso as dezenas de ocupações que são rejeitadas, e numa outra versão aceites, e passado 3 meses são despedidos com justa causa? E digo justa causa,porque já ouvi pela boquinha dos ditos despedidos, as maneiras vivaças utilizadas para voltarem a receber do fundo de desemprego. Dizem alguns, que ganham mais desempregados, que empregados!!
O problema reside apenos no facto,dos serviços de desemprego, os continuarem a manter como desempregados. A maioria não quer um trabalho,quer um emprego...

o alquimista disse...

Escreves em tons de vida com pinceladas cheias de humanidades...passei por aqui e perdi-me a saltar as tuas pocinhas...volto se não te importares.

Um beijinho "O ALQUIMISTA"

Anónimo disse...

Apoiadíssimo!!!!! Quem não quer / não pode trabalhar na sua área e recebe dinheiro por isso deveria contrinuir de outra maneira. Há por aí mtos trabalhos absolutamente necessários e que não matam ninguém.

Jinhos***

Fábula disse...

realmente, ele há coisas... o sistema está viciado, as pessoas estão viciadas, e quem vê o q está mal sente uma frustração enorme por ñ conseguir mudar o estado actual das coisas! :P

Anónimo disse...

Lê este artigo:
http://rprecision.blogspot.com/2006/07/palavra-de-honra.html

Não fala do mesmo, mas anda lá perto.

Enquanto não se mudarem mentalidades, nada mais muda.

Hindy disse...

É o país que temos!

Beijinhos :o)

Anónimo disse...

E quantos mais não existem por aí?

CMatos disse...

Havia por aqui um rapazinho de vinte e poucos anos "aparentando" ter deficiências mentais, que andava pelas ruas todo o dia a pedir "uma moedinha" para comer, e "toda" a gente com pena lá lhe ia dando alguma coisita, para comer e vestir.
Um belo dia entra na loja onde trabalha a minha mulher e pediu uma "moedinha" como habitualmente, ao que ela carinhosamente respondeu: Ó Jorge, para que queres o dinheiro se te dão tudo? És maluquinho ou fazes-te?
Resposta pronta do Jorge: Ó dona, maluco eu? Maluca é a senhora que trabalha para ganhar dinheiro.

(O Jorge agora foi viver com um familiar e já não anda pelas ruas.)

Beijinhos.

saltapocinhas disse...

Eu sei que este assunto é complicaddo e delicado... Mas já era tempo de alguém lhe deitar a mão. Afinal estamos em época de "vacas magras" não é? E como se desperdiça assim mão de obra? As juntas de freguesia podiam arranjar trabalhos para estas pessoas fazerem até aparecer o emprego! O caso de que falo é um "intocável": como é de etnia cigana se alguém o mandar trabalhar é racismo!!

Maria Papoila disse...

Essa história do rendimento mínimo é um verdadeiro insulto. Na minha opinião esse subsidio devia de acabar. Querem dinheiro trabalhem!

Mar disse...

Aqui tou um pouco com os dois lados das opiniões que já foram expressas. Mas a Emiéle abordou o cerne da questão, quanto a mim: O RMG (agora RSI - rendimento social de inserção) era composto por duas medidas: 1 - prestação pecuniária consoante o agregado familiar, para fazer face às necessidades básicas de sobrevivência de alguém que não tivesse qualquer outro meio; e 2 - projecto de inserção daquela família. Estes projectos contemplariam frequência da escolaridade obrigatória ou acções de formação para os adultos, e escolarização das crianças, e outras medidas de apoio dadas pela saude pública, por exemplo.

O problema é que as assistentes socais que acompanham o RSI têm mesmo centenas de processos para cada uma!
Que as entidades não disponibilizam vagas para formação (muito menos a ciganos!).
Que os centros de emprego não oferecem às autarquias, por exemplo, mais do que x pessoas por cada uma, ao abrigo de um qualquer estapafúrdio mecanismo de contenção!! financeira...e por aí fora, até dar no que descreves, Saltapocinhas.
Assim, não vamos lá :-)

(desculpa o lençol)

Anónimo disse...

Tanta indignação da Saltapocinhas… Se reparar também lhe falta a formação profissional ou uma actualização formativa no seu curso, para saber encaminhar este tipo de casos, que aparecem um pouco por todas as escolas do país. Vamos ver se o ministério da educação lhe consegue arranjar, mais um trabalhito…

IsaMar disse...

Tens razão no que dizes...
Mas agora pergunto: Será que essas pessoas querem trabalhar? Muitas dessas pessoas têm tudo sem fazer nada e por isso não se importam. E nós os "burros" é que nos preocupamos.
Mudar mentalidades..é muito complicado.

beijinhos

saltapocinhas disse...

Rosarinho Pois é!! como é que não me lembrei disso? Ca burra!!

Isamar Claro que não querem trabalhar: e o problema é esse - eles não querem e ninguém os obiga e continuam a dar-lhes dinheiro! Conheço este senhor, que é cigano, há 8 amos quando matriculou o filho mais velho na escola (foi meu aluno). Nessa altura pedi-lhe para vir à escola fazer um cesto para os miudos verem e era também uma forma de integração... Ainda não veio fazer o tal cesto. Porque já de fazer cestos precisa para viver!!

Mar tens razão, eu sei disso. Mas nós escrevemos e avisamos e mesmo assim ninguém vem à escola perguntar se os meninos são assiduos. Custava muito um telefonema??

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Margarida Espantada by Rodrigo Guedes de Carvalho My rating: 3 of 5 stars Gostei do livro mas acho que o autor exagera de mais em nomear ...