6 de fevereiro de 2008

Avaliação de professores ou... será que está tudo doido?

De toda a minha vida, o tempo que mais detestei foi o ano em que fui estagiária.
Detestava aquilo.
Detestava ser observada a dar aulas, detestava ver como, na altura, os professores das turmas e os orientadores de estágio se preocupavam, principalmente, com o show-of em vez daquilo que realmente interessava.
Mas, que alívio, cresci, acabei o curso e esses tempos passaram à história.

Passaram?
Bem, parece que como naqueles pesadelos em que não nos conseguimos livrar dos maus porque as nossas pernas se recusam a andar, voltámos ao mesmo.
Dizem-nos agora que as nossas aulas vão ser observadas...
Dizem-nos também que os materiais que se usam (ou não usam) nas aulas contará para a avaliação!

Eu não admito ter as minhas aulas observadas e avaliadas por colegas que, na melhor das hipóteses, sabem tanto como eu!

No formulário para avaliação de um professor por outro, há 20 itens de avaliação.
Um exemplo:

"Concessão de iguais oportunidades de participação, promoção da integração dos alunos e da adopção de regras de convivência, colaboração e respeito."

Mas alguma vez uma pessoa que assista a uma ou duas aulas de alguém, vai poder avaliar isto??
E - pasmem - cada item vai ser avaliado quantitativamente, isto é, numa escala de 1 a 10!
Como se fosse possível quantificar, por exemplo, a "capacidade de comunicação" ou "promocão de um clima favorável à aprendizagem"!!!

Eu não acredito!!
Tirem-me deste filme!

16 comentários:

eskisito disse...

Ahhhh pois é!!!! Agora também estás do meu lado. Isto é no mínimo ridículo. No mínimo...
Fora as provas escritas que vou ter de fazer...só mesmo neste santo país.
Beijos

Migas (miguel araújo) disse...

Mas oh Saltapocinhas. Isso é do mais fácil que existe. É tudo para o 10.
Passam a dar as aulas com portátil, datashow e powerpoints, quadros interactivos (onde não há, comprem) e vídeos.
Está garantido o material, a comunicação e facilitadas as regras da convivência.
Só há um senão... dúvido que se garanta a promoção de um clima favorável à aprendizagem. Mas isso parao ME também não importa nada.

Anónimo disse...

Andei eu tantos anos a reduzir os meus registos (grelhas e listas de observação, etc...)para agora me dizerem que tenho que os multiplicar!!
Ainda por cima vou ser avaliado por alguém que nem da minha área disciplinar é?
Resta-nos esperar que tudo não passe de areia para os olhos da Europa!

José António disse...

Isto vai ser um filme... Hoje a Fenprof propôs que se teste primeiro a avaliação e a resposta foi: Vamos estudar, mas será difícil. O pecado original está no Estatuto. Eu bem que fiz greve, que militei... qual quê? Foi na fase dourada do chefe. O Chefe dizia, tinha de cumprir-se. Vão ler o estatuto... está o guião do filme daqui para o futuro.

Anónimo disse...

Porque é que me parece que os professores são contra toda e qualquer forma de avaliação?...

Azul Diamante azul disse...

Olá saltitona
Estou de acordo quando dizes que um professor a avaliar outro tem muito que se lhe diga mas, pois vem sempre o mas, acredita minha amiga e não leves a mal o que vou dizer,possívelmente és uma boa professora mas mas mas há muitos mesmo muitos coleguinhas teus que são umas lástimas e nunca tiveram o ensino como vocação, estão-se nas tintas para o trabalho que desempenham perante os alunos e nas mesas de café só sabem falar nas futuras reformas.

saltapocinhas disse...

eskisito
eu sempre estive do teu lado! discordar em alguns pormenores não quer dizer que se esteja contra!
e nesta história da avaliação para os professores novos sou completamente contra!!

migas
o ministério já fez saber que excelentes e muito bons são só para muito poucos (se for!)
o quadro interactivo existe na minha sala, só que está avariado há quase 1 ano!!


um das artes
estás cheio de razão!
eu, que sou visceralmente contra a burocracia, iria ter de voltar a coleccionar papéis?
ná!!

zé antonio
um filme de terror!
quanto às nossas greves, assim não resultam.
tínhamos de ter a coragem - e o poder de compra - para podermos parar um mês!

luis
só te posso dizer que estás mal informado!
os professores estão contra esta forma idiota de avaliar!

bel
é isso mesmo!
há muitos professores assim, que se dedicam a tudo menos aos alunos...
fazem projectos e projectinhos, têm tempo para mestrados e até doutoramentos!
mas sabes o pior?
serão esses que vão avaliar os outros!

cereja disse...

A descrição é terrível. Quanto ao Luís, eu que não sou professora, a ideia que tenho é que o que até aqui apareceu como avaliação é muito, muito infeliz. Evidentemente que um trabalhador, seja ele qual for deve ter o seu desempenho avaliado, até para se ser justo para com os colegas. O que aqui dizem de professores que não se empenham nada, é certíssimo. Ora por isso mesmo é que não pode ser feita uma avaliação nestes moldes. Há pontos muito subjectivos que não entram nem podem entrar num esquema destes.

Didas disse...

Calma rapariga! Eu vou ser avaliada num sistema em que não pode haver mais de 20% de gajos muito bons. Nem que a vaca tussa. Mais vale mesmo relaxar.
PS: E quando fiz estágio, depois de cinco anos a trabalhar de dia e estudar durante a noite, até pensava que estava de férias. É tudo relativo!

saltapocinhas disse...

obrigada emiele pelas tuas palavras sempre certeiras e ao mesmo tempo comedidas...

realmente didas, tudo é relativo.
o meu estágio não foram nenhumas férias: muito trabalho no magisterio, na escola e em casa!

Anónimo disse...

Quando se mexe e remexe muito numa coisa, normalmente é porque nunca está bem e dificilmente virá a estar.

Dualidades JP

Anónimo disse...

Quem precisa de ser avaliado é quem nunca devia sequer ter entrado na carreira docente. Aliás, pelo que venho perceber, já vai sendo difícil, mesmo sem avaliação, ser mais professor.

Não me fales em estágio, que eu comecei agora o meu fim-de-semana, que acaba, deixa ver, daqui a pouco...

Anónimo disse...

Corrige em cima: "ser mais professor" por "ser mau professor".

mixtu disse...

não te tiro deste filme porque são necessárias professoras, ou melhor, pessoas como tu neste sistema...

ser avaliado, detesto, mas é necessario...

sobre a forma... não sei qual a melhor, in loco é necessária...

vem para a serra que eu não vou assistir às tuas aulas...

abrazo serrano

peciscas disse...

Bom colega, hoje vou alongar-me um tanto.
Deixa-me, antes de mais, dizer-te que, durante muitos anos fui orientador de estágios (nos chamados estágios clássicos ou na profissionalização em exercício), assisti a aulas e não me revejo nas palavras que aí dizes.
Mas admito que a tua experiência como estagiária tenha sido como referes.
Penso que a assistência a aulas, deveria ser uma constante ao longo da nossa carreira.
Se for encarada numa perspectiva formativa. Ou seja, se for efectuada em regime de reciprocidade e se nos permitir crescer profissionalmente.
Porque a nossa profissão é muito exigente e, creio que, cada um de nós, sozinho, tem muito mais dificuldades em encontrar respostas para os problemas que enfrenta no dia a dia.
Por isso, sempre defendi a ideia de haver colegas que assistissem às minhas aulas e que, eventualmente, me convidassem para assistir às deles.Para debatermos ideias, formas de actuação, termos um feedback do nosso trabalho.
Com toda a frontalidade, digo que um professor não pode encarar as quatro paredes da sala de aula, como um feudo privado.
Agora, temos a outra questão: o avaliação do desempenho que estão a tentar impor.
É um disparate, por vários motivos.
Em primeiro lugar, pela burocracia ridícula que estabelece.
Em segundo, porque quem sabe um mínimo sobre estas questões, não pode ignorar que os instrumentos de avaliação têm que ser previamente testados,reformulados e acertados, antes de pssarem a ser usados.
Em terceiro, porque, concordo contigo, não há, actualmente, no sistema educativo, uma cultura de avaliação do desempenho.
É preciso formar os avaliadores e os próprios avaliados, para a necessidade de, através da avaliação, se corrigirem desacertos eventuais.
E repara bem: o sistema existente até agora, era muito injusto: tanto fazia progredir o bom professor como o que só contribuia para que a profissão perdesse dignidade.
E a grande defesa da minoria de incompetentes que ainda permenece nas escolas, é precisamente o anonimato, a sombra, o disfarce.
Por isso, os bons profissionais, aqueles que sempre trabalharam com empenho e dedicação, não terão medo de enfrentar a observação do seu trabalho pelos seus pares. Numa relação de camaradagem de amizade.
Mas, e isso é o fundamental, através de uma avaliação formativa, construtiva e não punitiva, como é aquela que este disparatado ministério está a querer utilizar.
Mas, continuo a achar que o processo, tal como está a aparecer,vai ter muitas reformulações, atrasos e recuos.
Olha o que hoje se soube sobre a marcha atrás no que se refere à gestão das escolas...

saltapocinhas disse...

obrigada mixtu e ciranda!

peciscas:
li o teu comentário com toda a atenção e não estou em desacordo contigo: não me incomoda nada ser observada nas aulas por um colega.
também o faço a outras colegas quando o assunto me interessa.

o que me incomoda é que isso vá ser feito com caracter de avaliação!
quando eu era estagiária, as pessoas que observavam as minhas aulas sabiam, quanto mais não fosse pelo poder da experiencia - muito mais do que eu.
agora não vai ser assim, já que, dos titulares do meu agrupamento, só 1 tem mais tempo de serviço do que eu.
2 têm menos e 1 tem bastante menos...
isso é que não há maneira de entrar na minha cabeça!

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