16 de maio de 2005

Um grito de revolta

Que a vida está difícil, toda a gente sabe...
Mas "como" a vida está difícil só o sabe quem o sente na pele.
Por isso, e com autorização da autora, mas sem a identificar, deixo aqui na íntegra o que ela escreveu no seu blog.
Para que a desdita tenha rosto...
E também com uma réstea de esperança de que alguém que leia isto possa fazer algo para ajudar.

«Mais uma daquelas alturas em que não há grande vontade de rir e gargalhar por aí.
Aproxima-se um fim de semana daqueles em que estou sozinha em casa, com uma série de livros espalhados no chão pra ler e fantasiar e não pensar demasiado na vida porque não há nada nela, neste momento, em que valha a pena pensar, porque às vezes, meus amigos, isto é mesmo tudo uma grande bosta, camadas sobre camadas de merda em cima umas das outras.
E de vez em quando perde-se a vontade, deixa-se de acreditar, porque eu às vezes também me farto de lutar e lutar e lutar e a vida andar sempre pra trás e de notar que por mais que façamos um esforço esta porcaria não anda pra frente.
Estou cansada de desenhar castelos no ar e desejar viver neles enquanto ao mesmo tempo ando aqui por baixo a lutar contra moinhos de vento.
Estou cansada de sonhar alto e desejar coisas boas, estou cansada pôrra.
E preciso mesmo de parar, descansar a cabeça, porque há alturas em que tem mesmo que ser e o que eu mais queria agora era pegar no C e fugir, fugir para bem longe, para um sítio onde nada nem ninguém nos chegasse, não houvesse nada que nos pudesse magoar ou atingir.
Há que ter fé, eu sei, mas agora não, agora não quero pensar nisso, não quero pensar em nada e já que não posso gritar ao mundo grito aqui, que ninguém me ouve.
O C perdeu o emprego.
Mais uma daquelas remodelações das empresas, ele e mais 5 pessoas vêm pra rua porque a secção deles já "não interessa".
E a nossa vida não interessa?
As contas pra pagar não interessam?
A dignidade das pessoas não interessa?
Filhos de uma grande puta que se estão cagando pra toda a gente,
apetece-me matar esta gente.
E agora vivemos de quê se eu ganho 500 e a renda é 400?
Do ar?
Estou revoltada e estou farta. Farta que toda a gente goze, que toda a gente se banqueteie à custa dos impostos que pagamos todos os meses, farta de ver gajos armados em parvos a pedirem ao povo para ter calma, farta que tenhamos que pagar pelos erros e corrupções das pessoas que metemos no governo, farta de pagar uma renda tão alta por uma casa a cair de podre, farta de ter que adiar, mais uma vez, o sonho de ter filhos, porque tê-los é facílimo e o resto?
Comem do ar como nós?
Estou farta de passar pelas lojas de roupa e não me poder sequer dar ao luxo de comprar uma t-shirt para não desiquilibrar o orçamento.
Farta de andar com sapatos que me magoam os pés.
Farta de me queixar.
Fartinha, fartinha.
E precisamente por me andar a queixar tanto decidi que não escrevo mais aqui enquanto não puser a cabeça no lugar, enquanto não recuperar deste choque, pode demorar uma semana, pode demorar um mês, posso até nem aparecer mais sabe-se lá, porque ter internet em casa neste momento tornou-se um luxo também.
Vou ali e já venho.»

15 comentários:

PARTILHAS disse...

Não queria ler e passar, como se não tivesse lido.
Li!
Mas, não sei o que dizer!
A não ser sublinhar! Sublinhar, a desonestidade do sistema em si mesmo...
Os filhos...
Os sonhos...
A vida ...
Por mais que não queiramos... o vil metal, anda sempre colado às nossas expectativas...
Boa sorte.
Espero que o marido, consiga emprego rapidamente.

Confessionário disse...

Coneço tanta situação idêntica. Mas o pior mesmo virá quando olharmos para uma vitrine com escassos comestíveis e não pudermos comprar. Enquanto for só roupa!!!

Anónimo disse...

Bolas! bolas! bolas! para não dizer outra coisa. Mas que país é este? mas como é que as pessoas podem pensar em constituir família se não existe possibilidade de uma vida estável? Como pretendem que as pessoas vivam? do ar? Onde fica o espaço para a concretização dos sonhos e da felicidade individual? É realmente revoltante...

Anónimo disse...

Ainda bem que não há filhos na história, pois se assim fosse seria muito pior. Casos reais (bem reais) iguais a este e alguns muito piores que este, é o "pão nosso de cada dia".

Anónimo disse...

nem sei o que dizer...
e pensar...é tanta coisa que me passa agora que n tinha tempo para expressar...
Q merda!
Espero que se arranje alguma solução...
Pfff...que situação.

Leonor disse...

Quando nos deparamos com situações aflitivas, tanto nossas como dos outros, nunca sabemos muito bem o que dizer.Sabemos o que pensar: porque é que isto existe? mas o que dizer... e tudo fica por dizer.

António disse...

É este o país europeu, do primeiro mundo, da democracia, da liberdade, da imigração, do futebol, de Fátima, do fado, da merda, que temos e onde vivemos...ou não.
Jinhos

mfc disse...

É revoltante o que se passa e a indiferença de como somos tratados como números apenas.
É um mundo do empresialismo, quando devia ser um mundo de pessoas!

Anónimo disse...

É muito triste que pessoas com capacidade e vontade de trabalhar não tenham emprego e não consigam ter vidas dignas como merecem. O desequilíbrio social é tão grande... Em vez de programas na televisão como a Quinta das Celebridades, deviam apostar nestes casos reais e não nesses de fantasia com cabeças que só pensam nas capas de revista. Fico revoltada. Devia haver mais humanidade, devíamos ser mais uns para os outros, uns pelos outros, em vez de cada um por si. Espero que o marido desta amiga bloguista consiga rapidamente um emprego. Beijo grande.

Anónimo disse...

É mesmo uma grande merda! Desculpa a asneira, mas só dá vontade de dizer palavrões! Bj da Fernanda

Lyra disse...

É este o pais de muitos filhos da puta que se estao nas tintas para os outros, para a vida dos outros. É este o pais em que é dificil sonhar, porque os sonhos ficam lá longe numa terra dificil de encontrar. E a gente vai a nossa vida, aos nossos empregos, casas, filhos, e ela tem 400euros de renda pra pagar a ganhar 500euros! É este o pais de filhos da puta disfarçados. E cada vez está pior...

Grilinha disse...

Senti este texto como se fosse escrito por mim há uns meses atrás. Depois de 28 anos de descontos e terminado o Fundo Desemprego fiquei á mingua do meu marido. Foi uma reviravolta tremenda durante quase 1 ano só com 1 ordenado e as mesmas despesas de sempre. Como eu compreendo a aflição da autora. Que os governantes olhem para estes casos e ponham cobro a estas situações criando empregos e desenvolvendo o País em vez de andarem a passear papeis e pastas de cabedal e a roçar os "cús" nos estofos dos carros de luxo que nós cidadão comum pagamos com os nossos descontos. Já fiquei nervosa só de me lembrar o que passei e o que esta forista está a passar. Um beijinho para ela e que tudo corra pelo melhor.

M.P. disse...

Via ver o que tens para ti no meu Blog... Espero que não fiques zangada! :)**

Anónimo disse...

è deste dia-a-dia que vivemos! o pior é termos consciencia que nada será feito!!
Indecente é o que me ocorre!

AlmaAzul disse...

Um abraço na alma.
'***'

O Tempo Entre Costuras

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