13 de julho de 2006
Eduquês
Nuno Crato, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, escreveu um livro chamado "O eduquês em discurso directo" que ainda não li, mas que está em primeiro lugar na minha pilha para ler nas férias.
Nele o autor critica esta nova nomenclatura que não diz nem deixa de dizer mas que fica muito bem nos discursos ("aprender a aprender" é uma das expressões com que sempre embirrei...)
Nuno Crato disse que na proposta do estatuto da carreira docente a palavra "ensinar" não aparece nenhuma vez.
A Ministra da Educação disse que ele estava a mentir!
Mas, na Visão de 6 de Julho há um leitor muito atento que vem dar razão a Nuno Crato: realmente a palavra "ensinar" não aparece no ECD!!
Quem o afirma é um CIENTISTA (escrevi em maiúsculas porque ele merece) chamado Carlos Fiolhais que, apesar de ser professor universitário, tem feito trabalhos excelentes para o primeiro ciclo na área das Ciências.
Diz ele
"O meu computador que averigua factos e não emite opiniões, confirma, com rigor matemático que a palavra "ensinar" não aparece naquele documento."
Segundo o ECD em vez de ensinar, o que se faz agora é "identificar saberes e competências-chave dos programas curriculares de forma a desenvolver situações didácticas em articulação permanente entre conteúdos, objectivos e situações de aprendizagem, adequadas à diversidade dos alunos."
Entenderam?
Não?
Então comprem um dicionário Português-Eduquês!
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10 comentários:
Pois eu ainda não li esse livro, mas abriste-me o "apetite" e vou comprá-lo para as férias.
Quando o ler podemos tirar algumas conclusões.
Beijinhos.
Andamos tão atarefados que, a "falta de tempo", referida pela Emiéle que toca a todos e muito principalmente aos que, com eu, só recebem o subsídio de férias, este mês, só podemos ter a veleidade de lêr, qualquer coisa nova, depois da data indicada.
Ainda por cima com essa certificação matemática do porf. Carlos Fiolhais.
Ensinar! O que é isso?
Pois é Carla eu ainda nem o comprei, mas tenho-o encomendado numa livraria prquenina aqui perto de casa. Depois trocamos ideias!
Emiéle e José Há uma coisa gira na net, o bookcrossing, que para quem lê mesmo muito deve ser bem interessante pois permite trocas de livros.
Eu sou muito possessiva com os meus livrinhos, só empresto a pessoas que não me saiam debaixo de olho, mas a vocês emprestava!
Barão Ora aí está uma boa pergunta para fazer à ministra!! Eu também não sei, mas eu sou do 1.º ciclo pertenço àquele grupo de ignorantes e de "analfabetos tecnológicos!"
Nem sei como é que ainda vivo em liberdade com tantos crimes no cadastro!!
Já comprei o livro, mas não tive tempo para o ler, confesso. Vou ver se lhe pego quando estiver de férias... que ainda vêm longe!
Quanto ao ECD, desde quando é que pretendem que os professores ensinem? Cada vez acho mais que apenas temos de fazer relatórios e tomar conta de crianças/adolescentes...
Floreca Infelizmente vou ter de concordar contigo! O que nos pedem nesta altura em relatáorios e projectos e Planos disto e daquilo é de bradar aos céus! Eu tenho o cérebro meio derretido, já não digo coisa com coisa!
Que giro... Afinal qual é o papel do professor? Ah, pois é, já me esquecia... agora os professores são uma espécie de funcionários administrativos que de vez em quando vão averiguar as competências dos alunos.
Concordo contigo. Só coloquei o Plano de Leitura para uma discussão entre nós.
Fernanda
Já li o livro, e recomendo-o vivamente. Pouco tempo depois tive ocasião de conhecer o autor e impressionou-me pela clareza com que aborda as questões mais profundas - característica que não podia deixar de o põr em conflito com o eduquês, essa obscura gramática da superficialidade.
Num contacto posterior disse-me, com a simplicidade desarmante que o caracteriza (eivada, pareceu-me notar, de um pouco de mágoa): «A Ministra disse que eu menti e eu não tinha mentido». Apeteceu-me responder-lhe: «Pois não, Nuno, mas a Ministra tem do seu lado a Razão de Estado, que está para além da verdade e da mentira, enquanto você só tem do seu lado a razão da razão».
Impressionante, também, é o facto de tanto Nuno Crato como o francês Laurent Lafforgue (outro matemático distinto, e crítico acérrimo do delírio pedagógico) darem tanta importância ao ensino da língua materna, da gramática normativa e do texto literário. A este respeito vale a pena ler o pequeno texto de Lafforgue (v. link no meu blog) sobre se a matemática é uma língua. Talvez por aí se possa começar a abordar a verdadeira interdisciplinaridade, que se baseia no nexo natural entre os saberes, e não tem nada a ver com a «interdisciplinaridade» do eduquês, que se baseia na invenção de nexos postiços como a famosa «Área Projecto».
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