Apesar de muitas desilusões, costumo dar sempre o benefício da dúvida a quem aparece de novo, principalmente se me parece que vem disposto a trabalhar.
Foi o que aconteceu em relação a si: vendo que é preciso mexer na educação, começou mesmo a mexer, não se ficando pelas intenções do costume.
Tem toda a razão quando diz que há professores incompetentes a ganhar tanto (ou mais) que os competentes,
que há professores faltistas,
que há "professores" que nunca puseram os pés numa escola (e eu acrescento: nem as malas às costas) e progridem na carreira tal e qual como os que todos os dias dão o corpo ao manifesto.
E tem razão quando diz que é preciso distinguir uns dos outros!
Nenhum professor digno desse nome será contra a avaliação de escolas e professores, mas feita por quem saiba e sem a burocracia sufocante que a proposta do ECD propõe!
Acho excelente a organização que permite que, estando nós ainda em Junho, o próximo ano lectivo já esteja todo organizado e publicado na internet onde todos o podem consultar...
Nem o seu ar autoritário me incomoda, porque às vezes é mesmo preciso dar um murro na mesa para que volte a reinar a ordem na sala...
Mas...
... errou profundamente atacando os professores em vez de atacar os programas extensos e sem articulação entre ciclos, as mudanças quase anuais de nomenclatura e as suas más consequências, as péssimas condições físicas das escolas (muitas não têm funcionária, não têm casas de banho dignas desse nome, não têm espaço para além das salas de aula) e onde agora querem obrigar as crianças a permanecer no mínimo 8 horas, mas podendo chegar às 10! (conhece algum trabalhador que passe esse tempo continuamente no seu local de trabalho?)
... errou profundamente ao meter no mesmo saco os bons e os maus, os competentes e os incompetentes (dividir para reinar?)
Com isso criou uma forte desmotivação nos que trabalham (os outros estão-se nas tintas!) e começa a ouvir-se por aí:
"Se somos todos maus, vamos esforçar-nos para quê?"
... errou profundamente ao dizer que o insucesso escolar no nosso país se deve aos professores.
Essa afirmação é de uma atrocidade sem tamanho!
É desconhecer por completo o país onde vive e onde é a Ministra da Educação,
... é desconhecer que ainda há crianças que vêm para a escola com fome,
... é desconhecer que há crianças que vivem no meio da miséria e de todos os tipos de violência ...
... é desconhecer que há pais para quem a escola serve apenas para lhes guardar os filhos enquanto trabalham (os que trabalham!!),
... é desconhecer que, numa escola, os professores são pais e mães e psicólogos e conselheiros e amigos e enfermeiros e até fornecedores de comida...
E que no meio disto tudo ainda têm aulas para dar!
E que depois das aulas têm testes para fazer, testes e trabalhos para corrigir, aulas para preparar e projectos e relatórios e planificações e mil e uma reuniões... E que este trabalho não pode ser feito durante o período lectivo!!
... errou profundamente ao pôr-se de tal maneira contra todos os professores que até parece que, neste processo, somos nós os descartáveis!
E conseguiu uma unanimidade nunca vista de professores e de alguns pais mais conscientes dos seus deveres contra si !
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18 comentários:
Olha eu diria mesmo mais, a senhora Lurdes errou principalmente ao ser ministra, se a senhora fosse, portageira de auto estrada, arumadora de carros ou electricista nad disto se passaria, porquê, porque é que acabaram com o ensino técnico?
Excelente texto.
Um texto com conhecimento de causa.
Os prós e os contra. O que está bem e o que está mal.
Por vezes parece-me que o ministério da educação, de tão preocupado que está com números e resultados visíveis, se esquece de pensar realmente nos alunos e no bom funcionamento das escolas.
Sou professora de matemática desempregada, que adora ensinar e a Matemática... mas já não tem a certeza se pretende continuar a lutar por esse sonho.
Um abraço e bom trabalho!
Colega, subscrevo quase totalmente o teu texto!
Só ponho o quase pois, segundo me parece, o próximo ano não está assim tão organizado como parece. Há ainda muita coisa que as esolas desconhecem como se irá passar. Desde logo como serão os horários dos professores, no que se refere à duração da componente lectiva. Se querem que o Estatuto entre já em vigor em 2006/2007, há ainda muita confusão por esclarecer.
No resto, estou de acordo.
Estou no final da carreira, e nunca me senti tão desmotivado e profissionalmente tão desvalorizado como actualmente.
Ainda havemos de agradecer por alguém se ter lembrado de nos chamar incompetentes...
Ao menos, ganhámos consciência de que não somos todos iguais, coisa de que nos tentaram convencer ao longo de décadas.
E também descobrimos que temos orgulho próprio,enquanto profissionais!
Não é coisa pouca!...
Barão Já não te basata pagares portagem? ainda querias ver a senhora quando pagas??
MD Obrigada pela visita e pelas palavras. Pena não teres deixado rasto para continuarmos a conversa!
Peciscas Então estamos mesmo de acordo: eu quis dizer organizado no papel... Eu nem imagino o que vai ser a minha vida em Setembro, quando tiver de dizer aos pais que uma turma da escola vai funcionar para outro edificio, nem saber explicar como serão assegurados os prolongamentos numa escola com 2 professoras e uma semana com 5 dias!!
Assobio Obrigada pela visita! E não é que estás cheio de razão?? Há males que vêem por bem!
Nós que aqui andamos, sabemos bem que a ministra não conhece a realidade das escolas...
Peciscas, a ideia é o estatuto entrar em vigor em Janeiro de 2007, não no próximo ano lectivo. Quanto à componente não lectiva, podes consultar o despacho com as orientações para 2006/2007 que já está no site do ministério.
Orientações não nos faltam...
Excelente! (disse-o já também nos Textículos Nossos) Não sei se a colega leu já o artigo 'O Titanic', por São José Almeida, do Público de sábado... recomendo.
E MD, eu sou professora de Inglês, colocadíssima, e também me questiono, agora quase diariamente, sobre o continuar.
Abraço e bom final de ano a todos!
Olá!
Não deixei rasto porque não tenho blog (vou enviar endereço de e-mail).
MD significa Matemática Discreta. Escolhi este nome para comentar num blog e depois ficou. Dei 70h de formação dessa disciplina e devo dizer que me deixou saudades.
Foi a única vez que dei aulas (neste caso formação) depois do estágio.
Sou de Oliveira de Frades, mas agora moro em Aveiro.
Os problemas da nossa educação hão-de continuar a sentir-se enquanto tivermos ministros que desconhecem a realidade das nossas escolas, que se preocupam apenas com a frieza dos números e mostram-se cegos à verdadeira realidade. Como podemos esperar o que quer que seja de uma ministra que nem sabe que é o conselho executivo quem gere actualmente as escolas e não o conselho científico ou conselho directivo, como ouvi a Dona Lurdes dizer numa entrevista. Já que a senhora exige tanto rigor aos outros, devia começar também por exigir a ela própria.
Isabel não costumo ler o publico...sabes se o tal artigo anda por aí??
PN e Floreca Infelizmente, estão cheias de razão.
Quando me sinto a desmoralizar penso "mas as crianças não têm culpa nenhuma" e lá arranjo mais umas forças!!
Bom dia!
Procurei o artigo ontem no Público online, mas só se tem acesso a ele, infelizmente, como assinante, e no mail não recebi. Sei que consigo arranjar a versão em papel e posso fazer uma cópia. Vou fazer por isso e assim que o tiver, digo.
Ah, sou de Aveiro também :-)
Isabel isso já eu tinha procurado! nem faço ideia para que existe o publico on line! se é preciso pagar, compra-se o jornal!
eu não teria dito melhor. parabéns!
Dá-lhe!!!!! é assim mesmo...nem vale a pena comentar mais nada. Ou melhor, só uma pequenina coisa...olha que há mesmo muitos Portugueses a trabalhar (infelizmente) dez (10) horas por dia...acredita que há. Beijinhos e continuação de boa semana.
pois é minha querida,
passei por cá mesmo para te dar um beijo...
AFlores: até pode haver, mas não têm entre os 5 e os 10 anos pois não?
Nem os estudantes universitários têm uma tão grande carga horária|
Ah, grande saltapocinhas!
Adorei a tua carta aberta à Milú!
Subscrevo, posso?
Espero que esta carta não fique por aqui.Se cada professor desconte enviasse uma carta à ministra ela ficaria a conhecer a realidade das escolas e de quem nelas trabalha.Parece-me que ela desconhece totalmente o que se passa nas escolas.Força com esses protestos e essas denúncias. Um abraço.
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