A conversa foi na RTP, depois a discussão estendeu-se a muitos blogues.
No Arrastão, vai uma discussão interessante, mas também com muita ignorância à mistura. Alguns comentários são de gente que parece viver noutro planeta...
Na sequência duma frase, para mim muito infeliz, do autor do blog em relação a Fátima Bonifácio (e nem estou a armar-me em defensora da senhora que não conheço de lado nenhum) por ela ter afirmado que a maioria dos pais e encarregados de educação são analfabetos ou andam perto disso, ia caindo o Carmo e a Trindade!
Mas ela está - infelizmente!! - cheia de razão!
No início de cada ano lectivo faço uma caracterização da turma da qual faz parte, entre outros itens, as habilitações literárias dos encarregados de educação.
Para arrumar de vez com a discussão, pois contra factos não há argumentos, cá vão os números:
N.º de alunos da turma: 19
Pais e mães que estão caracterizados relativamente às suas habilitações literárias: 35
com o 11º ano: 1 (um!!)
com o 7º, 8º e 9º: 9 (nove)
com o 6º ano: 3 (três)
com o 4º ano: 11 (onze)
analfabetos: 11 (onze)
(de salientar que muitos dos pais e mães que têm o 4º ano de escolaridade são analfabetos funcionais, do género de não conseguirem preencher uma simples autorização para uma visita de estudo!)
A escola está integrada num Agrupamento onde há mais seis escolas do 1º ciclo e o panorama é idêntico em todas elas. E não, não fica no meio dum monte atrás do sítio onde Judas perdeu as botas: fica a escassos 6 km do centro da cidade de Aveiro!
Há muito trabalho a fazer na educação, seria bom deixarem de "malhar" nos professores e desculpabilizar os pais que preferem ver a novela a ver se os filhos fizeram os deveres ou se já sabem a tabuada... "A tua mãe ajudou-te a ler a lição?" "Não que ela estava a ver a novela.", não são frases inventadas por mim, garanto-vos!
E não vou falar dos que vêm para a escola em jejum, dos que nem sabem quem é o pai, dos que dizem "a minha mãe arranjou outro homem e agora não me quer lá em casa"... enfim, vou ficar por aqui!
Os números estão aí, tirem as vossas conclusões!!
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14 comentários:
Nem mais...grande verdade.
Está à vista!
bjs
Pois é... mas essas coisas só vê e sabe quem está na escola, o que não inclui ministros nem sindicalistas.
Estamos entregues à bicharada, é o que é!
Triste, triste.
O ano passado fiquei como representante dos encarregados de educação na turma da minha filha mais velha e tentei trabalhar em conjunto com alguns pais e com os professores. Garanto que dos professores e da própria escola tive todo o apoio, dos pais não houve abertura nenhuma - os pais dos meninos entendiam que os professores tinham que ensinar e tudo que eu queria fazer não passava de tempo livre. Foi frustrante pois consegui material muito bom que foi entregue aos alunos sem nenhuma actividade.
É triste o que se passa nas nossas escolas, pois uma grande maioria destas crianças não tem valores porque os mesmos não lhes são passados em casa - as mães dedicam-se a ver telenovelas e os pais a ver futebol - onde é que encaixámos os livros, as exposições, etc....
Peço desculpa por me alongar tanto, mas culpar quem não tem culpa é muito fácil - tomar medidas acertadas parece-me mais difícil.
Tens toda a razão, e nem é preciso recorrer à experiência pessoal, na minha breve aventura como professor, constatei isso mesmo que dizes, mmas dizia eu para constatar que o que a Professora Fátima disse basta olhar os números do próprio Governo:
15% da população com o ensino superior
20% com o 12º ano
57% oscilando entre o 11º e o 6º ano
8% de Analfabetos Totais
Junte-se a isso que da rapaziada 77% que tem escolaridade 60% são analfabetos funcionais, lêem e escrevem mas pouco mais, porque é que acham que o jornal mais vendido é a Bola.
Bom Fim de Semana
Está bem, mas tens que admitir que isso não é assim em todos os meios. Há pais que sabem minimamente o que andam a fazer sobre o planeta.
Didas, os pais dos meus alunos são, na sua grande maioria gente de bem! Lá por serem analfabetos ou quase não quer dizer que não sabem o que andam a fazer no mundo: muitos sabem e fazem-no bem! Mas isso não quer dizer que devam avaliar os professores por escrito ou darem-lhs para a mão um formulário que a maioria não saberá preencher!
Ah e esqueci-me de dizer que confio até mais no discernimento de alguns destespais do que no de muitos "senhores doutores" das cidades! A minha irmã tem os filhos nas escolas da cidade, o meu cunhado faz parte da associação de pais e contam-me autenticas barbaridades da parte de alguns papás!
Ora nem mais!
Concordo em pleno contigo.
dou aulas na Moita... e aquilo é exactamente igual. ainda hoje perguntei numa turma se os pais viam os cadernos e apenas 2 alunos em 25 afirmaram que os pais verificavem de vez em quando. um deles é filho de uma professora.
filhos de gente "muito bem" disseram que os pais nunca viam porque não tinham tempo. os menos favorecidos economicamente afirmaram que os pais não viam pq não percebiam nada daquilo.
Concordo ctg qd dizes que os pais (eu chamo-lhes "armados em doutores") com mais escolaridade são muitas vezes os que levantam as questões mais absurdas. pq escolaridade ou bem estar economico não significa educação ou cultura ou simples honestidade...
é verdade, essa é mesmo a realidade das nossas escolas. É claro que a Ministra e os seus lacaios n podem saber tal coisa, uma vez que n s dignam pôr o pé fora dos seus gabinetes.
Olá!
Passei por aqui e gostei, mtos parabéns pelo blog.
Não sou professora, sou estudante em final de curso...mas confesso que um dos meus sonhos era ter seguido seguido essa àrea, mas foi por estas e por outras, pelo estado que está este pais, pela forma como os prof. são desconsiderados,pela elevada tx de desemprego, etc...que eu segui uma area completamente diferente. (às vezes penso se fiz bem...)
Não te conheço, mas digo-te que admiro-te, pq ser professor neste país não é facil.
Bjs
Um beijo e um abraço em sinal de solidariedade.
Cara pula pocinha. Cá estou no outro lado do mundo (Brasil) e espanto-me ao ver os mesmos problemas de educaçao aí na metropole.
Transformaram escola e centro de reabilitaçao e educaçao familiar. Sou professora e nao mãe e pai dos meus alunos.
Força e coragem pois aqui contamos ainda com um nivel alto de violencia.
Que Deus nos acuda!
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